Translate

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Hanseníase em Pernambuco



por PGAPereira. Em 1966, o médico recém-formado Itamar Belo dos Santos assumia seu primeiro emprego no Centro Lessa de Andrade, na Madalena, Zona Oeste do Recife. Começava aí sua carreira como leprologista, palavra em desuso nos tempos atuais. Hoje, 46 anos depois, não tem como esconder a decepção diante de um problema que ajudou a combater por toda a sua vida profissional na saúde pública: a hanseníase. A doença mudou de nome para que o estigma e o preconceito fossem vencidos, mas ela se mantém firme, distribuída na geração de jovens, embora sejam raros os isolamentos como no passado. Nas décadas de 40, 50 e 60, o Hospital da Mirueira, em Paulista, conhecido como o Leprosário de Pernambuco, recebeu dezenas de doentes abandonados pelas famílias. O abandono, aliás, traduziu-se em muitas formas. "Faltou compromisso das autoridades sanitárias, por isso a doença persiste até hoje", afirma convicto. No Lessa, centro de referência, Itamar tratou centenas de doentes, formou novos profissionais e iniciou seus estudos. Propôs a descentralização do atendimento. "Era preciso preparar os médicos para atuarem no interior, criar os dispensários com assistentes sociais, dermatologistas. Quando houvesse dúvida, o paciente viria à capital". Mas não deram a mínima para a iniciativa do especialista. Mesmo sem apoio, Itamar manteve seus estudos sobre a doença. Fez mestrado, doutorado, atuava como preceptor de jovens médicos ou doutorandos em conclusão de curso. Realizou pós-doutorado em Barcelona (Espanha), produziu mais de 40 trabalhos. Conseguiu provar que não bastava combater o bacilo, era preciso usar remédios que estimulassem o sistema de defesa do organismo do doente. Queria ir mais adiante, porém não teve apoio. No Hospital da Santa Casa de Misericórdia, em Santo Amaro, fundou e hoje é consultor de um centro de dermatologia, que especializa médicos. Assim como nos tempos de Itamar, as vítimas da hanseníase em Pernambuco permanecem em classe social baixa. São idosas, adultas, jovens, como essa adolescente grávida de São José do Egito (foto) e crianças, da capital e dos mais distantes lugarejos do interior. Quanto mais novo o portador da enfermidade, maior o sinal do descontrole da transmissão. O Estado é o terceiro do País em número de doentes. Todo esse caos na saúde pública de Pernambuco deveu-se as péssimas administrações de governadores sem as mínimas qualificações para a função pública, por exemplo, Miguel Arraes de cujo orçamento foi todo para fazer suas politicagens de catador de votos dos miseráveis enganando a população com discursos metafóricos e sem vínculos com a realidade; um Jarbas Vasconcelos que nada fez em prol da população com projetos de pouca significação ou distanciados do dia a dia dos miseráveis; e o Eduardo Campos que desprezou a saúde pública em detrimento de aumentos absurdos do funcionalismo estadual, gastando o bilionário orçamento com projetos desnecessários e faraônicos, um destoado da realidade angustiante dos pernambucanos.
Adolescente grávida e com hanseníase. Na cidade de São José do Egito, no Sertão, a missão era encontrar portadores da doença de Chagas. Mas agentes comunitários de saúde e outros profissionais da atenção básica do SUS chamavam a atenção para a hanseníase. No posto de saúde de um dos bairros populosos da cidade, havia uma garota de 17 anos, grávida de seis meses, com manchas em várias partes do corpo, que reclamava das reações provocadas pelo remédio. "Não sabia que estava com hanseníase. Agora estou preocupada porque vomitei muito depois de iniciar o tratamento", contava. Tinha ido à unidade do SUS em busca de uma orientação médica. Segundo os profissionais de saúde, há muita migração de moradores de um bairro para outro, da zona rural para o espaço urbano, formando novos aglomerados. O êxodo rural em Pernambuco esvaziou os engenhos por completo. Tuberculose, alcoolismo e hanseníase acabam ganhando espaço entre essa população mais pobre nas cidades. Num dos loteamentos da cidade, um casal de meia idade, ex-morador do Recife, habita um casebre, onde não há água encanada e as condições de higiene são aparentemente precárias. A dona de casa está com hanseníase, mas não cumpre o tratamento. O marido tem uma ferida infectada na perna, na cicatriz de uma fratura exposta. Eles têm sete filhos. Ao descobrir casos de hanseníase, as equipes de saúde fazem bloqueio, vacinando com BCG (a mesma para tuberculose) parentes e a vizinhança que teve contato com o doente. Os remédios estão disponíveis, mas a dificuldade é convencer pessoas com outros problemas sociais a cumprirem a prescrição. O Programa Estadual de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas (Sanar) elegeu 25 municípios prioritários, onde há uma maior quantidade de menores de 15 anos infectados, principalmente no Agreste e Sertão. Por ter grande número de doentes nessa faixa de idade, Pernambuco é considerado hiperendêmico. Somando doentes de todas as idades, a média é de 37 doentes em cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2011, o número absoluto de casos confirmados chegou a 2.649. Nos últimos dez anos são 34.666. Para melhorar o combate, o Sanar implantou um laboratório de referência no Hospital Otávio de Freitas, no Recife, fez mutirão em cidades prioritárias e está treinando médicos da atenção básica para melhorar o diagnóstico. Recife. Na capital, o desenvolvimento econômico com a permanência de desigualdade faz com que de cada 100 mil pessoas, 45 tenham hanseníase. "A condição socioeconômica, a densidade populacional no domicílio e o preconceito, que leva o indivíduo a não procurar o serviço de saúde, favorecem a transmissão da doença", explica o responsável pela Epidemiologia, Antônio Leite. A Secretaria de Saúde do Recife iniciou, antes do projeto estadual, um plano de combate às doenças negligenciadas, focado na população escolar. Nos colégios públicos, alunos e professores recebem informações sobre hanseníase. Crianças e adolescentes levam para casa uma ficha a ser preenchida com os pais. A partir das respostas, são selecionados casos suspeitos. De 5.111 fichas distribuídas a partir do ano passado, 39,8% (2.036) foram respondidas. De 679 suspeitas, foram confirmados 19 casos. O resultado foi considerado satisfatório, o que sustenta a continuação do trabalho. São José do Egito, no Sertão do Pajeú, tem 31.829 moradores. A maior quantidade de domicílios permanentes é aquela em que vivem três pessoas. Há 2.595 moradores nessa situação.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A tuberculose em Pernambuco



Por PGAPereira. O advento da penicilina na década 40 e o avanço da medicina no século atual bem que poderiam ter nos livrado do bacilo de Koch. Mas não foi isso o que aconteceu e muito menos será realidade em pouco tempo. No País das desigualdades, tão realçadas em território pernambucano, as doenças sociais não se apagam facilmente. A tuberculose, que já era motivo de preocupação em 1648, quando o médico do Conde Maurício de Nassau, Guilherme Piso, escreveu um livro sobre a história médica da Índia Ocidental, com um dos capítulos intitulado "Dos Catarros", ainda mata uma pessoa por dia no Estado (segunda maior taxa do Brasil). São 4.100 doentes novos e 370 óbitos por ano. Durante essa expedição, ouvimos de médicos contemporâneos, com quase 30 anos de prática, a impressão de que o problema não cessa e ganha novos complicadores. Em vez do álcool, agora é o crack que facilita o adoecimento. A aids, desde a década de 80, deixa outros tantos vulneráveis. A condição de vida, insalubre para pobres, também permanece aliada, além do superlotado sistema penitenciário. Uma incursão nos hospitais Otávio de Freitas, para onde vão os doentes com a forma multirresistente, e Oswaldo Cruz, fundado em 1884 como Hospital de Santa Águeda para cuidar das epidemias, revela doentes jovens e adultos, preferencialmente do sexo masculino, magros, escarrando sangue. J.R., 38 anos (foto), pedreiro, entrou para essa lista este ano, depois de passar quase 12 meses sem diagnóstico. "Tinha dor no peito. Dava febre todo final de tarde. Eu ia para a UPA para não esperar duas semanas pela consulta com o médico do Saúde da Família. Diziam que era virose, tomava dipirona, melhorava e piorava no outro dia, sempre na mesma hora."
Dez novos doentes por dia. Quando comecei a tratar pacientes com tuberculose mal sabia que se tratava de um caldeirão prestes a explodir. Esse caldeirão continua borbulhando. Há uma deficiência nas redes primárias de saúde, as pessoas abandonam o tratamento e acabam se hospitalizando com uma doença resistente aos remédios. Sempre teve e tem muita tuberculose. Vejo mais pessoas doentes e o diagnóstico não é fácil. Acredito numa predisposição genética. Todos nós entramos em contato com o bacilo. O estresse, a desnutrição, a redução das defesas, a virulência da bactéria e essa predisposição definem a doença. O primeiro depoimento é da pneumologista Paula Ataíde, responsável pelo tratamento de pacientes com tuberculose multirresistente no Hospital Otávio de Freitas, da rede estadual, referência nesses casos. No bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife, reserva 55 leitos para a doença, todos sempre cheios. A segunda fala é do infectologista Vicente Vaz, do Isolamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz. Em Santo Amaro, centro expandido da capital, recebe também tuberculosos, parte dos doentes com a coinfecção aids-Tb. Paula e Vicente se formaram na década de 80 e desde os tempos de estudante tinham contato com a doença. O que os dois falam se cruza na história do pedreiro J.R., 38 anos. Há mais de um ano vinha sentindo febre todo fim de tarde. No início, era só febre e dor no peito. "Ia para a UPA perto da minha casa (Zona Norte do Recife). Diziam que era virose, tomava dipirona, melhorava e piorava no outro dia, conta. Ele voltava a procurar a urgência, trocava de UPA e sempre retornava para casa com dúvida, pois a virose não tinha fim. Os colegas de trabalho notaram que J.R. estava emagracendo muito, perdeu 22 quilos. E daí foi aparecendo raio de sangue no escarro. Resolveu então procurar o que deveria ter sido a sua porta de entrada no SUS: o PSF perto de casa. Lá, o médico diagnosticou tuberculose e tão debilitado estava J.R. que acabou internado no Oswaldo Cruz.
          Para Vicente Vaz, é provável que muita tuberculose esteja sendo tratada por aí como pneumonia. Mas se tiver tratamento, tudo bem. O pior é quando o doente fica totalmente entregue à sorte. Enquanto não morre, transmite bacilos para mais gente. Até 2015, para atender a meta da Organização Mundial de Saúde, o Brasil deverá ter dez casos da doença por cada 100 mil habitantes. A média brasileira é de 32 por 100 mil e, em Pernambuco, 44. Mas há extremos, variando de sete a 241 casos por 100 mil, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. No Presídio Aníbal Bruno, Zona Oeste da capital, o confinamento eleva a taxa para 1.800 por 100 mil (360 casos por 5.000 carcerários). "Não sabemos quando a tuberculose vai embora", sentencia Maria Júlia Vilela, coordenadora do programa municipal de combate à doença. Há 20 anos militando nesse campo, reconhece a incidência alta na capital: 86,2 casos por 100 mil, quase o dobro da média estadual. Para ela, a melhor estratégia para identificar doentes e convencê-los a fazer o tratamento é a que utiliza os profissionais de saúde da comunidade onde a pessoa está inserida, atuando inclusive em horários noturnos, para acolher a população masculina, que passa o dia trabalhando e não consegue ter acesso aos postos de saúde. Essa dificuldade, aliás, vem crescendo com o mercado de trabalho, ofertas de emprego na Zona Sul do Grande Recife e o difícil transporte público. "Meu marido acordava às 4 horas, tinha que pegar ônibus na integração, mudava para o metrô, depois tomava outro ônibus para chegar ao Cabo de Santo Agostinho. Lá, na empresa, ele não tinha folga para cuidar da saúde", justifica Maria de Lourdes Santana, que viu o companheiro só parar a rotina quando já não dava mais para superar a doença. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Tracoma em Pernambuco



Por PGAPereira. Longe das epidemias relatadas pelos oftalmologistas pernambucanos Altino Ventura e Clóvis Paiva nas décadas de 40 e 50, o tracoma, outra doença do passado, faz parte do presente. O Programa de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas da Secretaria de Saúde de Pernambuco (Sanar) tem submetido a exame de vista crianças matriculadas em escolas públicas e já encontrou, num mesmo lugar, até 10% delas com o problema. Jean Victor (foto), morador de Bodocó, é uma das vítimas.A doença, repetidas vezes, deixa a pessoa cega, o que leva a Organização Mundial de Saúde a estabelecer como meta para 2020 a erradicação de toda perda de visão em razão do tracoma. É causada por uma bactéria _ Chlamydia trachomatis _ que teria sido introduzida no Brasil no século 18, com as migrações europeias. Em São Paulo, no ano de 1904, o governo impediu a entrada de imigrantes doentes no Porto de Santos. A medida, no entanto, caiu rapidamente, diante da pressão de cafeicultores, que precisavam da mão de obra estrangeira.No livro Geografia da Fome, publicado em 1946, Josué de Castro cita o tracoma ao descrever as doenças que acometiam a população pobre do Sertão, desprovida de água, principalmente a região do Cariri, no Ceará. Em Pernambuco a falta de saneamento básico – sobretudo, acesso à água tratada, para possibilitar a lavagem de mãos e do rosto – ainda é forte."Tracoma é doença relacionada diretamente às condições de vida. Não é só falta de higiene. Não é só falta de educação doméstica. É propiciada pela falta d’água", diz Gisele Campozana, da Fiocruz. Em pesquisa de campo, ela diz ser muito comum ver criança com o rosto sujo. Gisele vai coordenar um inquérito nacional financiado pelo Ministério da Saúde, no qual Pernambuco está incluído.O coordenador do Projeto Sanar, José Alexandre Menezes, observa também componente cultural na incidência atual do tracoma. "Os hábitos permanecem mesmo com o acesso à água", relata. Segundo ele, entre 2011 e o primeiro semestre de 2012, foram realizadas ações em 15 dos 22 municípios prioritários, examinando 53.777 estudantes de 494 escolas. Desses, 1.440 tinham a doença e receberam tratamento, assim como os familiares. A média é 2,7% de infectados. A OMS considera elevada acima de 5%. Dois municípios apresentaram taxas superiores.
Mais de 1.000 infectados. No Araripe, região pernambucana muito próxima do reduto cearense que abrigou o tracoma no século passado, relatos são raros sobre doença recente. Só os mais velhos fazem referência ao tempo em que muita gente vivia com o olho inchado, coçando. Na vila urbana de Serra Branca, em Ipubi, a 662 quilômetros do Recife, o marceneiro Alfredo Graciano de Oliveira, 79 anos, recorda: "Era tanta gente sem pestana, corria aquela água velha". A vila, que tem uma fonte de água mineral, não sofre o impacto direto da seca. É atendida por poços artesianos e na estiagem do presente, a maior dos últimos 30 anos, gaba-se de ter frutas no quintal (manga, seriguela, goiaba). Mas só água não significa prosperidade. As famílias vivem do Bolsa Família, do salário de professor ou funcionário público. Uma agente de saúde, de 40 anos, não se lembra de ter visto tracoma, mas cita que vez ou outra há surtos de conjuntivite no distrito. Conta que não recebem visita de oftalmologistas e quem prefere a consulta com especialista tem que pagar médico particular. A visita porta-a-porta, para a entrega de pomada oftálmica (com antibiótico), deixou de ser feita quando as ações de saúde saíram das mãos da antiga Sucam (Funasa) para a prefeitura, mudança introduzida com a municipalização preconizada no SUS. Na região dos sítios, a situação vai mudando de figura. Em Serrolândia, as consequências da seca estão à mostra na paisagem e nas casas. Maria Rita Ferreira, 51 anos, natural de Exu e que vive em Serrolândia desde a juventude, diz que é comum haver problema nos olhos, com coceira e vermelhidão. Ela preside a Associação de Pequenos Produtores Rurais da Serra de Primavera (distrito de Serrolândia), em Ipubi. Para as 96 famílias que lá vivem falta muita coisa. A irmã dela, Lucilene Gonçalves, de 31 anos, mãe de 4 filhos, conta que todos tiveram problema nos olhos. "Quando eu era pequena me davam pomada de terramicina. Agora, boto sal", diz. A água que abastece as casas é de barreiro. O carro-pipa, a R$70,00 têm que dar para 60 dias.
          Profissionais de saúde da 9ª Geres, em Ouricuri, explicam que Araripina, Ipubi, Exu, Bodocó e Moreilândia têm bolsões de tracoma. No último inquérito realizado em 2006, em Bodocó, 5% das crianças estavam com a enfermidade. "É uma doença da falta d'água, de saneamento básico. Eles usam água de poço, cacimba. Utilizam a água da mesma bacia para fazer a limpeza das mãos e do corpo, compartilham a toalha. É uma doença de pé de serra, de mosquito remelento", conta um dos trabalhadores do SUS. A orientação é de não compartilhar a toalha e retirar a água com um caneco em vez de reutilizar na bacia para várias pessoas. Exames feitos em 2011 detectaram cinco casos em Bodocó. Foram mais de 600 crianças examinadas, de primeira a quarta série, de 7 a 14 anos, em oito escolas. Um deles foi recebido com surpresa pela professora Maria das Dores Albuquerque. O filho dela, Jean Victor, de 8 anos, que para a família tinha um problema alérgico nos olhos, foi incluído entre os positivos. Embora bem informada e orientada, Maria das Dores não tem água encanada. A fonte de abastecimento doméstico é uma cisterna que secou. O garoto já recebeu o tratamento preconizado, um comprimido de antibiótico. 

sábado, 5 de janeiro de 2013

Doença de Chagas em Pernambuco




por PGAPereira. O que há em comum entre uma agricultora de 34 anos, que vive em Panelas, no Agreste pernambucano, e um trabalhador do canavial, com 72 anos, nascido em Bom Jardim e criado em Igarassu, no Grande Recife? José Pedro da Silva perdeu pai e mãe vítimas da doença de Chagas e já sofre as consequências do mal. Seu coração só bate direito graças a um marcapasso instalado há quatro anos. Quitéria Rosa da Silva, 34, amarga desde os 19 anos o diagnóstico da doença. No seu caso, os herdeiros da doença são suas filhas Aline, de 20 anos, a primogênita, e Bruna, de 6, a nona dos 11 anos que botou no mundo. Quitéria pode ser o emblema do novo padrão da doença causada pelo barbeiro. Há chance de suas filhas terem a marca do parasita no sangue transmitido na gestação. Mas há risco de a família representar também a falha na vigilância à doença, pois até março deste ano ela vivia numa casa de taipa, visitada pelo inseto. Além disso, segundo avaliação da Secretaria Estadual de Saúde, a diminuição do número de domicílios investigados e a manutenção da proporção de insetos infectados nos últimos quatro anos significam aumento do risco de transmissão. Apregoado como o fim da doença, o certificado do Brasil como País livre da transmissão pelo Triatoma infestans escondeu que outros gêneros podem fazer o papel do aniquilado e que há uma multidão de crônicos invisíveis, infectados em outras épocas, que precisam ser descobertos e tratados. Desde os tempos do professor Durval Lucena, que fez o registro científico do primeiro caso pernambucano, muita gente ainda morre de Chagas e outros têm diagnóstico tardio da doença.
Multidão de crônicos. Assim como a esquistossomose, a doença de Chagas se perpetua em famílias pernambucanas, embora desde 2006 o Brasil tenha conquistado o certificado de fim da transmissão pelo Triatoma infestans, uma das espécies do barbeiro, conhecido também como bicudo. No Sítio Areias, área rural de Panelas, Agreste, na casa de Quitéria Rosa da Silva, 34 anos, o mal está presente no sangue dela, da filha mais velha, Aline, de 20 anos, e da nona, Bruna, de 6 anos. Não se sabe se as meninas herdaram o problema antes de nascer ou se foram infectadas depois pelo barbeiro, pois a casa onde moravam até o início deste ano era de taipa. Caso semelhante foi detectado na cidade durante o último inquérito nacional sobre a doença, realizado entre 2001 e 2008 no Brasil. Uma criança e a mãe tinham no sangue anticorpos da doença. Chegamos a Quitéria, em maio, na segunda expedição jornalística, com a ajuda de um agente de endemias que se sentia realizado em ver aquela grande família morarem agora numa casa de tijolos. Quitéria tem ao todo 11 filhos, planta milho, feijão e recebe Bolsa Família, ajuda mensal dada pelo governo federal. A vida parece dura, mas ela e as crianças estampam sorriso no rosto, conformadas com a luta. Descobriu que tinha Chagas no sangue aos 19 anos de idade, depois de ver, na televisão, reportagem sobre o barbeiro. Ela lembrou que, na casa de barro, durante toda a sua infância, era o mesmo bichinho que a picava. "Procurei a Secretaria de Saúde. Naquele tempo não existia agente comunitário", conta. Ela recorreu ao pessoal da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Exames de sangue confirmaram que estava infectada. Depois, constatou que a filha mais velha, já nascida, também tinha o mesmo problema. Mais herdeiros foram nascendo e a Doença de Chagas mais uma vez se repetiu na nona filha, Bruna. Quitéria só tomou o remédio contra o parasita (benzonidazol) há dois anos. Faz acompanhamento no Ambulatório de Chagas do Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco. Já tem algum sintoma? "Sinto uma canseira nas pernas e uma dor de cabeça muito forte", diz, consciente de que não pode se dedicar totalmente à roça. Mas morando no interior e com o serviço de referência para Chagas funcionando na capital, não é fácil ir às consultas. Para chegar às 6 horas no Recife, tem que sair às 2 horas de casa e perder o resto do dia com o retorno. Um serviço médico próximo de casa é reivindicação da Associação dos Doentes de Chagas e Insuficiência Cardíaca. O presidente é José Pedro da Silva, 73 anos, nascido em Bom Jardim, onde foi confirmado o terceiro portador do mal, na década de 40. Originário da Zona da Mata, ele tem sequelas de esquistossomose e de doença de Chagas. Usa marcapasso para compensar o estrago no coração. "Na década passada, conseguimos que a Prefeitura de Igarassu abrisse um ambulatório só para os chagásicos, como eu, que sou morador de lá. Mas, com a mudança de prefeito, o atendimento foi suspenso."
Na cidade de Tabira, que enterra por ano, em média, quatro vítimas do mal de chagas, facilmente nos deparamos com famílias e ruas marcadas pela doença. Antes de ir a um posto de saúde, arriscamos perguntar na entrada da cidade a um grupo de mototaxistas se conhecia algum falecido ou doente. Um levantou o braço e falou do sogro, morto há três anos. O outro apresentou a irmã, que tem a doença e não consegue se aposentar. Maria José Ferreira, 77 anos, confirma que o marido faleceu do mal de Chagas em 5 de novembro de 2009. Ela não esquece a data nem o sofrimento do esposo. José Paulino Sobrinho, o marido dela, sofreu um infarto e a partir dos exames descobriu que também tinha Chagas. Em duas décadas, trocou de marcapasso três vezes. A viúva mora numa casa de alvenaria, mas se lembra dos bicudos. "Paulino nasceu em Boi Velho, na Paraíba. Vivemos muito tempo num sítio, já em Tabira, onde os bicudos viviam na parede", conta. A cerca de 200 metros dali, mora Aretuza Maria de Lima Daniel. Aos 44 anos, mãe de um filho, sofre com arritmia. Natural de Serra Talhada, morou até os 16 anos naquela cidade, numa casa de taipa, no Sítio Beira do Rio. Agora vive com o marido numa casa de tijolos em Tabira e trabalha numa fábrica de pipocas. Embora jovem, já sofreu Acidente Vascular Cerebral várias vezes e tem sequelas do mal de Chagas no coração. "Trabalho porque preciso. Mas não tenho mais condições", diz. Ela tenta sem sucesso a aposentadoria por invalidez. Como não há médico no posto próximo de casa, paga consulta particular e exames que a Previdência Social exige. "Gastei recentemente R$ 500 para fazer eletrocardiograma, ecocardiograma e exame de esteira." Em São José do Egito, os portadores do mal também estão à vista. No Posto de Saúde da Família de Planalto, bairro populoso, há vítima de Chagas até entre os agentes de saúde. Rizomar Ferreira Leite, 53 anos, acredita que só vai parar de trabalhar "quando estiver no caixão". A doença que já matou o pai dela causa danos ao seu intestino. Na rua seguinte, Maria Dulce Ferreira, 68, natural de Teixeira, na Paraíba, tem Chagas e também perdeu o pai pelo mesmo problema. Acredita que foi picada pelo barbeiro quando era mais jovem e morava num sítio em Itapetim. Está em São José do Egito há sete anos. Foi nessa cidade que começou a sentir os efeitos da doença. "Passei cinco dias vomitando e comecei a sentir cansaço", relata. Ela usa marcapasso e toma sete medicações compradas.
Em Timbaúba, na Zona da Mata, cidade onde viveu o primeiro doente de Chagas cientificamente comprovado em Pernambuco, por Durval Lucena, em 1940, encontrou Luíza Maria de Lira. Aos 67 anos, ela descobriu há 40 que tem o mal. Guarda até hoje o exame que lhe deu o diagnóstico, a reação de Machado e Guerreiro, técnica não mais utilizada. Toma 20 remédios por dia, para controlar também pressão e diabete. "A Doença de Chagas está controlada, a diabete é que não está", diz a filha Rosilane. Mãe de adolescente, Rosilane e suas três irmãs nunca fizeram exame de Chagas. Saindo do Centro, tomamos o caminho da zona rural, onde casas de tijolos estão sendo construídas em substituição às taperas que os barbeiros costumam visitar. Próximo às ruínas de uma estação de trem, a idosa Maria Davina da Silva, 88 anos, ainda reside em casa de taipa. Na casa dela ninguém tem Chagas, mas ela se lembra do "percevejo de cadeia, chupão, bicho do casco duro". Em Espinho Preto, José Pedro da Silva, ou Pociano, como é conhecido, confirma que ficou viúvo há seis anos. A esposa, Cícera Minervina da Silva, passou sete anos inchada, cansada, até que o coração não resistiu. Morreu morando numa casa de barro, onde a filha Damiana Cícera da Silva, 34 anos, ainda vive. "Vi minha mãe sofrer muito. Não quero ter essa doença", diz, sem ter testado seu sangue até então. Timbaúba, Zona da Mata Norte, tem 53.825 habitantes, desses, 7.458 (13,9%) estão em área rural. O Censo 2010 do IBGE encontrou, no território, 217 casas de taipa com revestimento e 61 sem reboco, servindo de habitação para 1.500 pessoas. Serra Talhada, no Sertão do Pajeú tem 79.232 moradores. São quase mil habitações de taipa na cidade polo da região. Panela, no Agreste, tem população de 25.645 habitantes e 98% deles já vivem em casa de alvenaria, conforme o IBGE. Há 57 imóveis com paredes de barro, onde moram 306 pessoas.
Barbeiro segue a urbanização. Em Serra Talhada, a 420 quilômetros do Recife, no Sertão do Pajeú, a Secretaria Municipal de Saúde já detectou barbeiros na área urbana da cidade. "Ainda não podemos dizer que estão se reproduzido, não identificamos colônias que poderiam confirmar essa situação", explica Aron Araújo, responsável pela vigilância epidemiológica. O secretário-adjunto de Saúde, José Alves, teme que um dia isso possa ocorrer. E aponta um fator determinante: o avanço da urbanização, que desmata e desaloja os insetos. O desmatamento para exploração imobiliária, que cresceu com a criação de novos campus universitários e obras da Ferrovia Transnordestina, retirou os insetos do seu habitat natural. O cinturão periférico do Centro é ocupado por pessoas que deixam a área rural, trazendo galinhas, cachorros, chiqueiro, mantendo, portanto, hábitos que atraem os barbeiros. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, o índice de residências com barbeiros tem se mantido em torno de 9%. Dos insetos capturados, 6% estão infectados pelo parasita causador da doença. "Desde o ano passado, temos fortalecido as ações de controle do vetor, o que deverá implicar na redução do percentual de barbeiros", informa José Alexandre Menezes, coordenador do Programa de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas. A redução do número de domicílios visitados e a manutenção do percentual de positividade dos vetores, ao longo dos últimos quatro anos, segundo Menezes, "significam aumento do risco de transmissão, daí a necessidade de fortalecer a vigilância pelos municípios". Em 2007, 132.699 imóveis foram inspecionados. Dois anos depois, os domicílios visitados somaram apenas 104.998, mais de 28.000 a menos. Oficialmente não têm sido registrados casos de transmissões recentes. No Ambulatório de Chagas do Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco, são 1.150 chagásicos matriculados. Wilson Oliveira, cardiologista que coordena o serviço, acredita que a enfermidade permanece sendo negligenciada. "Mas pela primeira vez estou vendo interesse maior em melhorar a assistência", reconhece. O serviço foi certificado recentemente pelo Ministério da Saúde como referência regional.
Descentralização. Apesar da larga experiência e da referência para casos agudos e crônicos de Chagas, o ambulatório tem déficit de pessoal. Como trabalha com equipe multidisciplinar, precisa de enfermeiros, psicólogo, assistente social e de educador físico. Wilson Oliveira defende que os chagásicos passem a ser acompanhados pelo Programa Saúde da Família ou por outro serviço de atenção básica perto de casa, ficando para o Procape os casos mais complexos. Outro desafio é encontrar médicos dedicados. "É pequeno o interesse diante de doença negligenciada", diz o especialista, que fundou o serviço em 1987. "Há 40 anos usamos o mesmo remédio. Já deveríamos ter uma droga com menos efeitos adversos", completa. O coordenador do Sanar responde que estão sendo realizadas ações para melhorar a qualidade do diagnóstico, com uma rede de referência para a vigilância e tratamento das pessoas com a doença. Uma das metas do Estado é a descentralização da oferta de sorologia para Chagas nas regionais de saúde. 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Esquistossomose, doença dos pernambucanos








Por PGAPereira. Começa aqui uma viagem no tempo para desvendar o passado e o presente de nove doenças, males que já deveriam ter sumido do território pernambucano, mas fazem parte da rotina em pleno 2012. De década a década, ao longo de 100 anos, descubra o que revelaram cientistas, conheça artigos de repercussão e atente principalmente para os personagens reais, sobreviventes de uma injusta e desigual luta pela vida.A reportagem especial doenças sem fim encontrou crianças expostas à esquistossomose e toda a sorte de verminose, tomando banho e fazendo necessidades fisiológicas nos rios porque não têm banheiro em casa. Descobriu jovens da cidade e do interior com o coração quase parando por causa de uma doença sem registro obrigatório. Deparou-se com adolescentes grávidas marcadas pela hanseníase e leishmaniose. Resgatou velhos e novos herdeiros da doença de Chagas, além de uma nova geração vítima de tracoma e tuberculose. Foi atrás da quase exterminada filariose, que ainda atormenta quem mora junto a córregos e esgotos.
DO ESGOTO PARA O CARAMUJO. O pescador André Severino dos Santos, 33 anos, herdou o mal que matou o pai dele há sete meses. Não é congênito, mas pode se multiplicar em família quando a exposição é repetida de geração em geração. André e o pai são vítimas da esquistossomose, provavelmente introduzida no Brasil com o tráfico de escravos africanos, e que encontrou vida longa em alagados e barrigas pernambucanas. O Estado é campeão brasileiro em mortes pela doença. Sinal de uma boa vigilância, que não deixa escapar um só registro? Nem tanto. Más condições sanitárias se perpetuam em pleno desenvolvimento econômico fruto de governadores incompetentes e semianalfabetos que desconheciam a realidade de seu povo. Nós pernambucanos tivemos aqui parlamentares desqualificados para as funções que exerciam, uns arrogantes que só enxergavam catar votos de pessoas humildes e obedientes e que há séculos não levantaram uma palha para melhorar o quadro clínico da população miserável e doentia pernambucana. Tinham poucos conhecimentos em asfaltar ruas e estradas, trocar lâmpadas de postes e coletar o lixo e jogá-lo em lixões a céu aberto, mas se a urgência pedia uma ação enérgica na área da saúdes, eles construíam um posto de saúde e meses depois estavam entregues as baratas e eram esquecidos, mais um elefante branco no cartão postal da cidade. De 1950, quando foi realizado o primeiro inquérito nacional sobre a doença, até hoje, a paisagem mudou um pouco, com casas de alvenaria, energia elétrica, internet e água encanada. Mas a rede de distribuição não chega a todos e a coleta e tratamento de esgoto, por onde deveriam escorrer fezes infectadas, é coisa rara. Os órgãos de comunicação em massa não veiculam informativos sobre como evitar esses tipos comuns de doenças que assola a Zona da Mata, Litoral e até em comunidades da metropolitana Jaboatão dos Guararapes, onde há famílias sem torneira ou banheiro. Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz constataram nas últimas duas décadas o Shistossoma mansoni em caramujos de água doce e em fezes de moradores em toda essa extensão, inclusive no Recife. Por mês, o principal serviço de referência, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco admite oito novos doentes crônicos, com a forma grave da doença parasitária, etapa na qual o verme já provocou estragos quase irreparáveis, dilatando vasos do esôfago, matando por hemorragia digestiva. No Hospital da Restauração, também chegam crianças e adultos com lesões no sistema nervoso. E no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) chama a atenção à hipertensão pulmonar pela esquistossomose. Não há só amarelos e com barriga d’água. A esquistossomose ganhou outras feições.

BARRIGA D’ÁGUA E PARALISIA. A presença da esquistossomose entre as gerações é visível nas pesquisas, nas lembranças de quem sobreviveu à doença e dos que permanecem expostos a ela. Embora não tenha concluído o novo inquérito nacional sobre a endemia, a bióloga Constança Simões Barbosa, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, comprova em seus recentes estudos a sobrevivência do verme na Zona da Mata e sua franca expansão por todo o Litoral. A Lagoa do Náutico, em Jaboatão dos Guararapes, é endereço certo do ciclo interminável homem-esgoto-caramujo-homem, onde o pescador André Severino dos Santos, 33 anos, primeiro personagem dessa matéria, passa a maior parte do tempo. Ele é herdeiro da praga que mata cerca de 200 pernambucanos por ano. Além de ver o pai morrer de hemorragia digestiva por causa do verme, André já carregou o bicho na barriga e não tem como evitar o contato com a água contaminada. Evandro Barros, da mesma geração, residente em Gameleira, Zona da Mata Sul do Estado, está com 35 anos e desde os 18 perdeu o movimento das pernas porque o xistossomo se alojou na sua medula. Pesquisamos Jaboatão e Gameleira. O território vizinho da capital, com a segunda maior população de Pernambuco, e a outra cidade pertence ao grupo das 108 em que a esquistossomose é endêmica. Na metade do século passado, 86% dos moradores de Gameleira tinham o verme. Em Jaboatão, 52% estavam na mesma situação. Aquela foi a primeira grande pesquisa realizada no Brasil para definir a distribuição da verminose, coordenada por Barca Pellon e Isnard Teixeira, do então Ministério da Educação e Saúde. A média de positivos, no Estado, foi de 25% e os pesquisadores presumiram, então, que um quarto dos pernambucanos estavam infestados. Foram testadas em 50.365 pessoas em idade escolar e 608 de outras faixas etárias. Nada menos que 12.752 tinham o xistossomo. Os trabalhos, dirigidos pelos médicos Lessa de Andrade e Orlando Parahym, não encontraram muita distinção entre sexo, cor e residência rural ou urbana. Sessenta e um anos depois, o Programa de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas da Secretaria de Saúde de Pernambuco encontrou 8.414 infestados, nos municípios endêmicos, num universo de 165.458 exames realizados. São agora 5% positivos para o verme, índice quatro vezes menor, mas inaceitável. No intervalo de seis décadas, a responsabilidade pelo controle da esquistossomose saiu de mãos federais para municipais. Em vez dos guardas sanitários da Sucam (depois chamada Funasa), foram os agentes de endemias, contratados pelas prefeituras, que passaram a entregar de casa em  casa recipientes,potes, para coleta de fezes. Mas os resultados dos exames nem sempre chegaram a tempo hábil no endereço certo. E as condições sanitárias não mudaram totalmente. Resultado: muitas famílias só descobrem a esquistossomose pela autópsia, com a morte do enfermo. A hipertensão pulmonar é uma delas. E foi esse mal que fez o jardineiro Aurélio Olímpio Gomes, 45 anos, morador do Cabo de Santo Agostinho, descobrir que é portador do xistossomo. Há 12 anos, andando de bicicleta, passou mal e caiu. Procurou a agente de saúde e foi examinado pelo médico do posto perto de casa. De lá, foi encaminhado ao Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco, onde vez por outra se interna passando mal. Na cidade de Gameleira, as múltiplas faces da doença também se revelam como a que deixou Evandro sem andar. O hoje auxiliar de serviços gerais, funcionário público do município, anda com a ajuda de muletas. "Aos 18 anos, deu uma dor forte nas costas. Achava que era problema de coluna. No segundo dia, perdi força nas pernas e caí. No Hospital de Ribeirão (cidade vizinha), o médico me perguntou se eu tinha tomado banho de rio. Suspeitou da esquistossomose". A suspeita confirmou-se no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, onde passou quase dois meses internado. Evandro tomava banho no Rio Sirinhaém e não sabia do risco de contrair a doença. "Só agora sei que o verme se aloja no caramujo e dele passa pra gente. Depois de muita fisioterapia consegui sair da cama", conta. As lesões neurológicas são raras, mas numa região endêmica tornam-se mais comuns, explica a médica Ana Lúcia Coutinho, do Hospital das Clínicas, que se dedica à esquistossomose como fez seu pai, Amaury Coutinho. Por mês, indigna-se a médica, são oito novos casos crônicos admitidos no ambulatório de gastroenterologia da unidade de saúde, depois de uma hemorragia ou de outra complicação séria, descobrindo só assim a condição de portador. No início do século passado, a situação era pior. O diagnóstico da esquistossomose era dado após a morte do paciente, segundo registros da cadeira de anatomia patológica da Faculdade de Medicina do Recife, assinados por outro Coutinho, Aluízio Bezerra, primo de Amaury.
TRATAMENTO COLETIVO. Sem saneamento básico em grande parte de sua extensão – só pouco mais de um terço dos domicílios estão ligados à rede coletora de esgoto–, não resta outra arma para conter a transmissão da esquistossomose em Pernambuco, a não ser tratar as pessoas infestadas pelo verme. Mas a estratégia defendida pelo Estado, com a conivência do Ministério da Saúde, mal começou e já atrai muitas críticas. "É louvável a intenção, mas existem muitas dificuldades na prática", diz a agente de saúde de Gameleira. Além de temer reações nos moradores sem que haja médico de retaguarda o tempo todo, Lucineide lembra que há uma contradição. Ela tem que orientar a comunidade a só tomar remédio prescrito pelo médico e agora, com o tratamento em massa, tem que convencer as famílias a tomar os comprimidos contra o verme da esquistossomose sem receita e sem comprovação de que a pessoa está infestada. Gameleira, na Mata Sul, tem 27.912 moradores. O Censo 2010 do IBGE encontrou 545 domicílios sem banheiro e 1.195 abastecidos com poço ou nascente fora da propriedade. Jaboatão dos Guararapes é a segunda cidade mais populosa do Estado, com 649.787 habitantes. Lá, há 79.067 casas com banheiro ligado à fossa rudimentar e 51.169 à rede de esgoto ou pluvial.
VERMINOSES - A diminuição da miséria, com a inclusão de pernambucanos em programas sociais como o Bolsa Família, é uma realidade. De fato, mesmo diante da prolongada seca deste ano – a maior dos últimos 85 anos - é possível constatar a diferença em ter R$ 70,00 ou R$ 160,00 no bolso quando não é possível tirar do campo o alimento. Entretanto, a longa estiagem revela no Agreste e Sertão que o bem mais básico ainda falta na torneira de muita gente: a água potável. A sede é saciada com água barrenta, de açudes quase esgotados, ou de fontes duvidosas, como a da casa onde vive o garoto Jocivan da Silva (foto), seus pais e oito irmãos, no Sertão do Araripe. No interior, ainda é comum andar léguas a pé para buscar água, carregar latas na cabeça ou recorrer da moto ou jumento. E nem sempre em condições de consumo humano com água salgada (salobra) e constituição do próprio solo local com muito arsênio venenoso, outros metais e até mofos de água do subsolo há muito retesada. O problema todo está nas escolhas dos secretários das cidades e de obras os quais constroem açudes com poucas profundidades com vários metros o que acarreta evaporação de toda a água coletada pela irradiação solar – em vez de uma profundidade maior e correta de 100 metros atingindo até poços artesianos. As centenas de milhares de cisternas entregues a população rural – coleta de água pelo telhado com urinas e fezes de ratos e gatos, caneletas e armazenamento em caixas d’água baseada no solo (um tanque de procriação de vermes) não é lá uma idéia boa, isto porque trás muitas enfermidades além do lodo que causa doenças renais degenerativas.   Na Zona da Mata e Grande Recife, nem precisa o clima ir ao extremo para enxergar os problemas. Nas áreas urbanas das cidades grandes, as famílias vão driblando o racionamento d'água. Lavar as mãos antes das refeições e depois de ir ao banheiro é teoria difícil de cumprir até mesmo nas escolas, onde as gerações recebem as primeiras lições de saúde. O que corre nos rios e canais também exala o mau cheiro do lixo e das fezes. O pleno crescimento não universalizou banheiro nem esgoto recolhido e tratado. O resultado é que lombrigas, giárdia, ameba e até o amarelão estão se multiplicando nos intestinos. Vermes e protozoários menos agressivos que o xistossomo, mas com real poder de adoecimento, permanecem como no passado. Em menor proporção, mas em condições de estragar o crescimento saudável das crianças.
AMARELÃO - De cada 100 pessoas que vivem em 58% dos municípios pernambucanos, sete têm algum tipo de verme na barriga. Nessa conta não entra o xistossomo, e dependendo do saneamento básico oferecido, a infestação pode ultrapassar 10% dos moradores. Rios limpos, esgoto coletado e tratado, frutas e verduras cultivadas longe de coliformes fecais, mãos e unhas bem asseadas, água clorada, tudo isso que constitui a condição ideal para evitar a transmissão de verminoses, não se aplica a áreas de racionamento, seca e pouca educação. Por isso, o amarelão, que aparece apenas em livro de ciências (que as escolas teimam em não dá uma importância relevante), também tem seu espaço em pleno 2012, na mesma área endêmica para a esquistossomose. Os secretários de educação de Pernambuco, uns desqualificados para essa função, não prestaram contribuição alguma como medida profilática para a erradicação dessas enfermidades tão perigosas, mal sabiam confeccionar bandeirinhas de festa de São João, desfile do 7 de setembro e teatrinhos de veados. Culpado por toda essa desgraceira foram os governadores de Pernambuco. Segundo o Programa Estadual de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas (Sanar), de 165.458 pessoas submetidas a exame de fezes entre 2011 e 2012, 12.554 tinham verminoses, sendo os mais frequentes os ascarídeos ( lombriga), os triquiuros e o ancilóstomo (amarelão). Embora sejam indicador de doença, o SUS não faz registro desses parasitas no sistema de informação. O Estado fica então sem saber quantos casos positivos foram tratados. O coordenador do Sanar, Alexandre Menezes, revela que as áreas com maior frequência do amarelão são a Região Metropolitana (Jaboatão, Cabo, Goiana e Igarassu) e Zona da Mata (Aliança, Belém de Maria, Bom Jardim, Catende, Cortês, João Alfredo, Paudalho e Vitória). É menos frequente no Agreste, mas com registro importante em Gravatá, Bom Conselho, Correntes e Garanhuns. Dossiê mapeando áreas com maior incidência de esquistossomose e demais parasitoses será encaminhado pela Saúde aos responsáveis, no governo, pelo saneamento, para auxiliar na definição de obras que melhorem as condições de vida das comunidades, informa Menezes. Na década de 50, no inquérito realizado por Barca Pellon e Isnard Teixeira, do Ministério da Educação e Saúde, as lombrigas estavam presentes nas fezes de 97,14% dos escolares da Zona da Mata e Litoral e o amarelão, em 46,96%. O pescador André compreendeu há 11 meses, com a morte do pai, o poder devastador da doença. "Para essa lagoa (a do Náutico) ficar livre do xistossomo, é preciso tratar o canal, tirar os esgotos", compreende. Tem medo de entrar nela? "Medo eu tenho, mas vou fazer o quê?", responde, com a responsabilidade de criar três filhos e a mulher, todos dependentes da pesca. Antes, a situação era pior. Há um ano morava às margens do lago e convivia com o caramujo transmissor da doença em tempo integral. Um projeto de ampliação viária na cidade acabou transferindo para outro lugar André e dezenas de moradores.
GIÁRDIA E AMEBA - No Recife, a Secretaria Municipal de Saúde encontrou algo mais examinando as fezes de escolares. Nada menos que 24% das crianças tinham giárdia ou ameba, protozoários. A proporção foi maior que a de vermes (12% de infestação). Na ação feita em parceria com o Programa de Saúde da Escola, após campanha educativa nos colégios, 500 potes para coleta de fezes foram distribuídos, mas menos da metade (221) retornou com material para o laboratório. Ameba e giárdia não recebem a atenção merecida. A própria OMS não definiu critérios para tratamento em massa. Quando o assunto é verme, recomenda tratar coletivamente escolas onde 20% dos examinados forem positivos. Mas será que vale tratar todo mundo apenas sem melhorar as condições sanitárias das unidades de ensino, por exemplo? "Estamos refletindo sobre a melhoria da estrutura das escolas e sua grade curricular", questiona Antônio Leite, gerente de Vigilância Epidemiológica. No Recife esgoto a céu aberto estava presente no entorno de 16,7% dos domicílios particulares permanentes urbanos, segundo o Censo 2010 do IBGE. São 5,7 pontos acima da média nacional de 11,0%. Na capital vivem 1.537.704 pessoas.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Medicamentos em sprays e conta-gotas longe do alcance das crianças


por PGAPereira. Mantenha todos os medicamentos com embalagens sprays, incluindo conta-gotas para os olhos e nariz fora do alcance das crianças. Engolir mesmo uma pequena quantidade desses produtos pode causar danos graves às crianças. É o pesadelo de todos os pais: Você está de costas, e seu filho engole algo tóxico. Isso acontece com os produtos que você não pode imaginar serem perigosos. Por exemplo, aplicar remédios no olho na forma de conta-gota (OTC) utilizado para aliviar vermelhidão ou como descongestionante nasal. "Nas mãos de crianças pequenas que estão aptas a engoli-los, eles podem causar sérios problemas de saúde", diz o farmacêutico Yelena Maslov, Pharm.D., No Food and Drug Administration (FDA). FDA está alertando o público para manter esses produtos, que contêm os ingredientes ativos Tetrahidrozolina, oximetazolina, nafazolina ou (conhecidos como derivados imidazolínicos)-fora do alcance das crianças em todos os momentos. Os produtos são vendidos sob várias marcas tais como Visine, Dristan e Mucinex, bem como em tipos genéricos e sob diversas embalagens. Maslov explica que uma colher de chá de conta-gotas para os olhos ou sprays nasais que contêm derivados da imidazolina é igual a cerca de 5 mL (100 gotas) e, em que o dano foi relatado a partir de se engolir tão pouco como 1 ml a 2 ml (de 20 a 40 gotas). "As crianças que engolem até mesmo quantidades minúsculas destes produtos podem ter graves efeitos adversos", diz. Entre 1985 e 2012, o FDA identificou 96 casos em que crianças com idades variando de 1 mês a 5 anos acidentalmente engoliram produtos que continham esses ingredientes. Os casos foram relatados por consumidores e fabricantes para bancos de dados monitorados pelo FDA. De acordo com alguns relatos de casos, as crianças mastigaram ou chuparam as embalagens sprays ou estas foram encontradas vazias ao lado delas. Não houve mortes, no entanto mais de metade dos casos (53) relatou-se hospitalização por causa de sintomas que incluíam náuseas, vômitos, letargia (sonolência), taquicardia (batimento cardíaco acelerado), e coma. "A subnotificação desses tipos de eventos é comum, por isso é possível haver outros casos que não foram diagnosticados", diz Maslov.
Embalagens seguras para crianças. Estes produtos são apenas significativos para uso nos olhos ou nariz. Nos olhos, os ingredientes trabalham pelo estreitamento dos vasos sanguíneos para aliviar a vermelhidão de irritações oculares menores. No nariz, eles contraem os vasos sanguíneos para aliviar a congestão nasal devido ao resfriado comum, febre do feno, ou alergias. Em janeiro de 2012, a Consumer Product Safety Commission dos EUA (CPSC) propôs uma regra para exigir embalagens de todos os produtos que contenham pelo menos 0,08 mg de um derivado de imidazolina resistentes para uso de crianças. No entanto, esta regra não foicumprida. Além disso, a Divisão de Prevenção do FDA de erro de medicação e Análise (DMEPA) em uma parceria com a CPSC alerta os consumidores sobre a necessidade de manter estes produtos em segurança, fora do alcance das crianças. De acordo com a FDA mais de 60.000 crianças acabam em departamentos de emergência a cada ano nos EUA porque tomaram medicamentos, enquanto seus pai ou responsável não estavam as observando.  A literatura veiculada sugere que os pais devem explicar aos seus filhos o que o medicamento é e por que os pais devem ser os únicos a dar para a criança. Além disso, nunca dizer a uma criança que o medicamento é doce para que ele ou ela possa se medicar, mesmo que a criança não goste de tomar o medicamento.
Longe do alcance das mãos. Para ajudar a evitar a exposição acidental de uma criança a qualquer medicação, os pais e outras pessoas encarregadas de cuidar delas devem: (a) Armazenar medicamentos em um local seguro, que seja muito alto para as crianças alcançarem ou os verem. (b) Nunca deixe medicamentos ou vitaminas expostos em um balcão da cozinha ou ao lado da cama de uma criança doente. (c) Se um frasco de remédio tem uma tampa de segurança, certifique-se de colocar a tampa novamente a cada vez que você usá-lo. (d) Lembre as babás e visitantes para manter bolsas, malas ou casacos que contenham medicamentos longe das crianças e escondidos quando encontrarem-se em sua casa. (e) Evite tomar medicamentos na frente das crianças, porque eles gostam de imitar os adultos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Os canibais de Garanhuns




Por PGAPereira. Foram indiciados Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, a esposa dele Isabel Cristina Pires da Silveira e a amante, Bruna Oliveira, como assassinos da jovem adolescente Jéssica Camila da Silva, 17 anos, desaparecida desde 2008 em Pernambuco. O trio está preso e vai a julgamento até o final de 2012 por este crime cometido e pelo assassinato de outras duas mulheres em Garanhuns, Agreste pernambucano. Eles teriam matado Jéssica e ficado com sua filha, na época recém-nascida. O corpo da adolescente teria sido esquartejado e enterrado no quintal da casa, em Rio Doce, Olinda, onde os acusados moravam. Segundo o delegado, além de Jéssica, o trio teria tentado atrair outra mulher para a casa em Rio Doce. "Temos relatos consistentes que mostram a intenção dos três em fazer outras vítimas", afirmou o delegado.O delegado Paulo Berenguer adiantou também que o indiciamento pela morte de Jéssica foi feito independentemente da confirmação do exame de DNA feito nos restos mortais encontrados na casa de Rio Doce. "Temos elementos suficientes para indiciar os três pelo homicídio. Inclusive a própria confissão dos suspeitos", contou o delegado. Jorge Beltrão, a esposa e a amante ficaram conhecidos como os Canibais de Garanhuns. A polícia descobriu que eles mataram duas mulheres naquele município e comeram partes dos corpos das vítimas.As vítimas eram atraídas para a residência dos acusados com a promessa de um emprego de doméstica. No local, as mulheres eram esquartejadas e tinham os restos mortais enterrados no quintal. Eles foram descobertos porque usaram o cartão de crédito de uma das vítimas. Os familiares da mulher avisaram à polícia, que rastreou as compras e obteve imagens de Jorge e Isabel usando o cartão em um estabelecimento no Centro de Garanhuns. Jorge Beltrão, que já foi professor de caratê, escreveu um livro intitulado Revelações de um esquizofrênico, onde ele conta em detalhes como matou Jéssica e as duas moradoras de Garanhuns. O livro acabou sendo uma das peças principais para incriminar os acusados. A filha de Jéssica Camila da Silva, que era criada pelos acusados, está em uma instituição de amparo enquanto a Justiça decide quando ela será entregue ao avô.
O trio de assassinos de Garanhuns confessou mais seis mortes. O trio de canibais de Garanhuns confessou ter assassinado mais seis pessoas, segundo o promotor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em Garanhuns, Itapuan Vasconcelos. Com isso, o número total de vítimas já chega a nove. Ainda de acordo com Itapuan Vasconcelos, eles afirmaram que cinco destes crimes teriam acontecido no Recife e um em Olinda. Jorge Beltrão, Isabel Pires e Bruna Oliveira são acusados de homicídios triplamente qualificados, falsidade ideológica, estelionato, ocultação de cadáver e falsificação de documentos. "Em uma agenda que ela possuía, Bruna tinha anotado que tinha entrado em contato com outras mulheres no Agreste de Pernambuco. Uma em Lagoa do Ouro e outra em Jupi. De acordo com suas anotações, estas mulheres seriam usadas nas próximas missões do grupo. Eles chamavam de missão cada assassinato que cometiam", afirmou o promotor do MPPE, Itapuan Vasconcelos. Em relação a esta nova confissão, a Polícia já está investigando onde cada crime ocorreu para que possam procurar por possíveis corpos. "O trio revelou alguns endereços e nomes e agora eu creio que o DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa) esteja buscando mais informações," continuou o promotor.Durante seus depoimentos, os acusados falaram que as duas vítimas em Garanhuns foram atraídas com promessas de emprego ou para falar sobre Deus. Quando chegavam à casa do trio, eram torturadas e assassinadas.O caso - A polícia chegou até os acusados após a família de Alexandra da Silva Falcão, 20 anos, levar à delegacia uma fatura de cartão de crédito apontando que estariam fazendo compras no comércio de Garanhuns com a documentação dela. “Com essa informação em mãos, fomos até as lojas mencionadas na fatura. Chegando nesses estabelecimentos, solicitamos as imagens do circuito interno de segurança e conseguimos prender os acusados”, explicou o delegado Wesley Fernandes, da Polícia Civil. Presos, os acusados confessaram estar usando os documentos da vítima e afirmaram também ter matado Alexandra e Giselly Helena da Silva, mais conhecida como "Geisa dos Panfletos", que estava desaparecida desde o dia 12 de março. Em depoimento, eles também confessaram terem enterrado os corpos no quintal da própria casa. Quando chegaram à residência, os policiais foram recebidos por uma criança de apenas cinco anos que deu informações do crime para a polícia e apontou os locais onde estavam enterrados os corpos. “Ela já foi encaminhada para o Conselho Tutelar da cidade e receberá todos os cuidados necessários”, finalizou o delegado. Canibalismo - Isabel Cristina confessou que os três não apenas esquartejavam as vítimas, mas também retiravam a pele dos corpos, cozinhavam a carne, se alimentavam e usavam parte desta carne humana para rechear salgados que eram vendidos em Garanhuns e Caruaru.
Garanhuns: Assassinos de mulheres vendiam salgados recheados de carne humana.Segundo o delegado Wesley Fernandes, que está à frente do caso, durante o depoimento de Isabel Cristina, ela confessou que parte dos salgados – coxinhas, risoles, empadas, entre outros – que ela fazia para vender na cidade eram recheados com a carne das vítimas. “Depois que eles esquartejavam, a carne era congelada, desfiada e também utilizada para alimentar a família, inclusive dando partes dos corpos para a criança que morava com o trio. Além disso, segundo Isabel, a parte preferida era o coração das vítimas. Mas nada sobrava. Eles também usavam o fígado e os músculos das pernas que eram fervidos e ingeridos, numa espécie de ritual macabro”, explicou o delegado. A polícia acredita que esse mesmo ritual foi feito também com outras vítimas.A polícia encontrou carne humana na geladeira da casa dos assassinos.A vendedora de salgados  - Isabel Cristina Pira, 50, dona de casa, casada com Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 50, fazia os salgados em casa e saia pelas ruas do centro de Garanhuns vendendo empadas, coxinhas, sempre com o argumento que estava precisando comprar remédios e colocar comida em casa.Elas foram assassinadas, esquartejadas e enterradas no quintal da casa dos assassinos. Quando a polícia chegou à residência foi recebida por uma criança de apenas cinco anos de idade que mostrou aos policiais, “o local onde os pais mandavam as pessoas para o inferno”. Ela foi levada para o Conselho Tutelar da Cidade e os acusados, Jorge Negromonte, Isabel Cristina e Jessica Camila foram encaminhados para a 2ª Delegacia, onde confessaram ter cometido o crime.A mãe da vítima.  Em entrevista, Celma Maria Leandro da Silva, 42, mãe de Alexandra da Silva (vítima), tinha esperança de encontrar a filha ainda viva. Segundo ela, Alexandra saiu de casa no dia 12 de março, dizendo que ia resolver uma questão de emprego, já que uma mulher (que seria Isabel, uma as acusadas) teria lhe oferecido uma oportunidade de trabalho, enquanto pegava ônibus no centro da cidade.Revolta. Moradores da Rua das Emboabas, no bairro Jardim Petrópolis - onde aconteceu o crime - arrombaram a residência dos acusados e atearam fogo no imóvel. A Polícia também registrou um saque no local. Quatro pessoas foram detidas.Entre elas, três menores.
O livro - Com frieza, Jorge Negromonte registrou cada passo dessa atrocidade em 34 capítulos distribuídos em 54 páginas de ofício. Com direito a ilustrações demoníacas, sumário, biografia e um roteiro de magia negra, o acusado relata como matou as vítimas e o prazer em acabar com, o que ele chama de “adolescentes do mal”.Confira alguns trechos do livro: Capítulo XXVI. A dividida. Vejo aquele corpo no chão, Jéssica desconfia que ainda se encontre com vida, pego uma corda, faço uma forca e coloco no pescoço do corpo, puxo para o banheiro e ligo o chuveiro para todo o sangue escorrer pelo ralo.Ao olhar para o corpo já sem vida da adolescente do mal, sinto um alívio. Pego uma lamina e começo a retirar toda a sua pele, e logo depois à divido.Eu, Bel e Jéssica nos alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e o resto eu enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente...Capítulo XXIV. o plano macabro de destruir a adolescente maldita –“Um dia eu aproveitando que a adolescente do mal não estava, combinei com Bel e com Jéssica um modo de destruí-la, e chegamos a uma conclusão: Matá-la, dividi-la e enterrá-la. Só que cada parte dela em um lugar diferente.Era uma noite de chuva forte, relâmpagos e trovoadas. A criatura do mal estava em um quarto da casa; olho para Bel e para Jéssica com um olhar de que aquela noite seria o momento certo para destruir o mal."Todo ser humano tem instinto assassino, e tal instinto é liberado em situações como essa. O homem também é o único ser que mata por prazer, mas até o matar por prazer é uma espécie de autoproteção do seu eu...”Depois de localizar os corpos de duas mulheres assassinadas, esquartejadas e enterradas no quintal da casa dos acusados Jorge Negromonte, 50 anos, Isabel Cristina, 51, e Jéssica Camila, 22 anos, na Rua das Emboabas, no bairro Jardim Petrópolis em Garanhuns, a Polícia Civil segue com as investigações e a cada momento se depara com novas informações que têm chamado a atenção das autoridades. Desta vez, um livro foi localizado.Distribuídos em 50 páginas de papel ofício, Jorge Negromonte narrou cada detalhe do crime que cometeu ao lado da esposa e da amante.O folheto, que tem como título "Revelações de um esquizofrênico", parece um livro de magia negra. Com direito a ilustrações com figuras demoníacas, biografia, sumário e 34 capítulos, o acusado queria deixar perpetuado o ato de brutalidade. Tanto que, não bastasse a frieza em descrever os fatos, levou o livro impresso (em gráfica rápida) e o registrou no Cartório do Terceiro Ofício de Notas em Garanhuns (às 15h36 do dia 28 de março deste ano).Assassinos esquartejaram vítimas e enterraram os corpos na própria residência.Desde a manhã de quarta-feira (11), quando a Polícia Civil chegou até uma residência da Rua das Emboabas, no bairro da Liberdade em Garanhuns, no agreste de Pernambuco, e localizaram os corpos de duas mulheres que estavam desaparecidas, a população demonstra a revolta ao acompanhar de perto essa tragédia.De acordo com a polícia, a casa dos assassinos foi arrombada e saqueada, por volta das 19h30. Ao todo, quatro pessoas foram detidas. Entre elas, três menores. Nada restou na residência.