Estudos realizados do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM) apontam que apenas 1% da vazante do Rio
Amazonas pode acabar com a seca no Nordeste e Sudeste do País. O governador
do Estado, José Melo (Pros), afirmou que apresentará o projeto oficial à
presidente Dilma Rousseff. “Transportar água é a coisa mais fácil do mundo.
Precisamos só de tubos e bombas de recalque”. A declaração foi dada durante
apresentação dos projetos de infraestrutura que estão sendo executados pelo
governo estadual. A ideia, segundo José Melo, é que haja uma compensação
financeira pelos benefícios prestados. O recurso poderá ser recebido por meio
da Lei Estadual de Serviços Ambientais, que será votada ainda este ano. “De
quebra, quando essa água for transportada, o povo amazonense terá sua
compensação pela retirada do bem que é nosso. Esta é uma saída para a crise
hídrica e o Brasil teria que pagar um preço ao Amazonas e a um pedacinho do
Pará, pois essa água será retirada entre os municípios de Parintins (AM) e
Breves (PA)”, pontuou. O projeto da transposição das águas do Rio São Francisco
não vai vingar, isto porque o volume de água é muito pequeno para abastecer
todo o nordeste brasileiro, e outra que a água é de péssima qualidade. Além
disso, o Rio São Francisco está comprometido com as hidrelétricas da região desértica.
Melo citou, ainda, as obras do poliduto da Rússia até a Europa Oriental como
exemplo de que, no Brasil, o projeto é viável. “Há 50 anos fizeram um
poliduto saindo da Rússia até o mar da Turquia. Foram mais de seis mil
quilômetros de distância. Eles construíram a obra em meio a ventos de 60 km/h,
com 40 graus negativos de temperatura e rompendo montanhas. Por que não podemos
levar água para o Brasil se não temos temporais, gelo, nem nada? É tão
simples”, enfatizou. De acordo com o CPRM, 1% da vazão do rio Amazonas – que
corresponde a aproximadamente dois mil metros cúbicos por segundo de água
– equivalente a todo o volume do rio São Francisco, que passa por cinco
Estados e 521 municípios. O rio Amazonas possui, em disparado, o maior fluxo de
água por vazão. Segundo Melo, a intervenção não causará impactos negativos.
“Mandei fazer um estudo para verificar os impactos ambientais. Eu tinha uma
preocupação em falar disso e os cientistas irem contra. Mas ficou comprovado
que esse 1% de água seria suficiente pra abastecer o Sul, Sudeste e Nordeste
brasileiro sem nenhum impacto. É um volume insignificante considerando o bem
que vai fazer pro Brasil”. Ainda de acordo com Melo, o potencial do rio
Amazonas deve ser mais valorizado. “O rio São Francisco está totalmente
assoreado, não agüenta mais a pressão do desenvolvimento. A bacia do Brasil
Central também não aguenta, pois as grandes fazendas de gado assorearam os rios
que eram imensos potenciais de água doce e hoje já não são mais. O Amazonas não
foi agredido, só se tirou 2% das árvores que se tem. Essa compensação
financeira será justamente para ajudar a mantermos nossos bens mais preciosos
preservados”. Cientistas rejeitam a idéia: Alguns cientistas
discordam da alternativa. Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa) Philip Fearnside, o problema não é o 1% da água tirada do
rio Amazonas, mas sim a energia que seria necessária para bombear o recurso
hídrico. “O trajeto envolve subida de altitude. Diferente de petróleo, a água
tem que ser transportada em volume muito maior, e o valor por metro cúbico é
muito menor, fazendo com que fique economicamente bem menos viável do que
polidutos na Rússia. A energia para as bombas teria que vir de algum lugar,
provavelmente de hidrelétricas, que tem grandes impactos”, analisa. A crise
mundial: A demanda cresce, o clima muda, e os preços sobem. Os problemas de
oferta e demanda de alimentos é um dos mais discutidos atualmente. Para o
governador José Melo, a solução de transportar água poderá influenciar
positivamente até a crise mundial de alimentos. “Olhando o fato de que o
Brasil, nos próximos anos, será responsável por 25% de todo alimento que o
mundo vai precisar, e considerando que é nos alimentos que se gasta 70% da água
doce que se utiliza nesse País, e se essa água já está escassa, então tem que
levar o recurso de onde tem”, ressaltou. Nota do INPE: “Um canal
terrestre da foz do Amazonas até São Paulo, com algo em torno de 3 mil km de
extensão e tendo que vencer grandes desniveis, faz brilhar cifrões dourados nos
olhos das grandes empreiteiras. Com o maior rio da terra fluindo na Amazônia -
refiro-me ao rio Voador de umidade - não faz o menor sentido pensar em usar
enormes recursos financeiros da sociedade e incríveis quantidades de energia
para fazer a transposição de água do Amazonas por terra. A ameaça real ao rio
aéreo, que pode estar ligada à seca em outras regiões, chama-se desmatamento.
Muito mais barato será estancar o desmatamento e replantar florestas”.
Editor Paulo Gomes de Araújo Pereira. F – Rio Amazonas.