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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Hemorróidas


pelo Químico Industrial PGAPereira. Se você a considera um tema adequado para a conversação ou não, é evidente que as pessoas querem informações sobre hemorróidas. No rodeio anual do Google de termos de busca populares, hemorróidas foi o problema de saúde topo de tendências nos Estados Unidos em 2012. (O "problema de saúde top trending" significa que esta busca particular teve a maior quantidade de tráfego durante um período sustentado em 2012 em relação a 2011.) De acordo com o National Institutes of Health (NIH), essas veias inchadas e inflamadas na parte inferior do reto ou ânus afetar 75% das pessoas em algum momento de suas vidas. Hemorróidas são mais comuns em adultos com idades entre 45 e 65 anos, e particularmente para as mulheres durante a gravidez e após o parto. Obesidade e sedentarismo são também contribuintes. A Administração de Alimentos e Drogas (FDA) é responsável por avaliar uma série de produtos usados ​​para tratar e eliminar as protuberâncias muitas vezes irritadas e por vezes, dolorosas. O que causa hemorróidas? Como são tratados?Existem medidas preventivas que você pode tomar para manter-se livre de ter hemorróidas?
Causas e sintomas - Na maior parte das vezes, as hemorróidas são causadas por aumento da pressão nas veias do ânus. Existem dois tipos de hemorróidas: internas (não cobertas por pele), que formam o interior do reto e externas (cobertas por pele), localizadas perto da abertura anal. "Você muitas vezes não pode ver ou sentir as hemorróidas internas", diz FDA médico oficial Herbert Lerner, MD, um cirurgião cólon-retal. "Mas, esforço durante as evacuações e prisão de ventre podem causar hemorróidas que podem sangrar e, ocasionalmente, deslocar-se através da abertura anal." Isso é conhecido como uma hemorróida saliente ou prolapso, e que provoca dor ou irritação. Às vezes, sangue de uma hemorróida externa forma um coágulo, diz Lerner, que pode resultar em dor intensa, inchaço e inflamação. Se o sangue é vermelho escuro ou preto, você deve ligar para o seu médico, pois pode ser um sinal de algo mais sério, ele adverte. Os sintomas mais comuns das hemorróidas incluem: a) prurido e dor (especialmente quando está sentado); b) sangue vermelho vivo no papel higiênico, fezes, ou no vaso sanitário; c) dor durante as evacuações; d) um ou mais nódulos duros doloridos perto do ânus.
Como tratar-se das hemorróidas - Há uma série de cremes over-the-counter e outros produtos que estão disponíveis para os pacientes com hemorróidas. "Estes produtos podem ajudar você a se sentir mais confortável", diz Lerner, "mas não vai se livrar das hemorróidas subjacentes, como hemorróidas internas, que normalmente causam sangramento." Segundo a FDA gastroenterologista Rajat Malik, MD, outras maneiras de aliviar sintomas leves podem incluir imersão regularmente por 10 a 15 minutos em um banho quente, e uso de papel higiênico molhado depois de uma evacuação. "Com essas medidas, os sintomas leves deve diminuir em dois a sete dias", diz Malik "Se os sintomas não melhorarem com esses tratamentos em casa e, certamente, se se agravarem, é hora de falar com o seu prestador de cuidados de saúde." Se a hemorróida é trombose (há um coágulo de sangue), o seu médico pode decidir remover o coágulo com uma pequena incisão, Lerner explica. "Você pode fazer isso com anestesia local e em ambulatório", diz ele. "Eu tive um monte de pacientes desconfortáveis insatisfeitos por entrar em meu escritório com uma trombose, e depois sair feliz depois dela ter sido extirpado." Outros procedimentos incluem a ligadura (corte do abastecimento do sangue da hemorróida com uma faixa de borracha), a escleroterapia (a injeção de uma solução química para reduzir o tecido da hemorróida), e de coagulação, o qual utiliza um laser ou luz infravermelha para endurecer e encolher as hemorróidas. "A FDA é responsável por revisar os dispositivos utilizados tanto na ligadura como na coagulação", diz Lerner. As hemorróidas grandes podem não ser capazes de serem tratados com os procedimentos menos invasivos, como ligadura e escleroterapia (sclerothapy), e pode necessitar de cirurgia, conhecida como hemorroidectomia.
Como evitar hemorróidas - É claro que com hemorróidas, como acontece com tantas outras doenças, a prevenção é fundamental, diz Malik. Para a maior parte, a melhor maneira de prevenir as hemorróidas é manter as fezes macias, de modo que eles passam facilmente. Algumas maneiras de fazer isso são: a) comer alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e grãos integrais; b) beber líquidos em abundância; c) exercício e não sentado por longos períodos de tempo; d) usando laxantes; e) uso de suplementos de fibras. Perguntado se ele acredita que a maioria das pessoas prefere pesquisar anonimamente online (no Google) para obter informações sobre hemorróidas do que pedir aos seus médicos, Lerner diz que não necessariamente. "A maioria das pessoas vieram me ver não por causa da hemorróida em si, mas por causa do sangramento associado a ele." "No momento em que veio me ver, sentiam-se geralmente muito desconfortáveis", acrescenta. "Eles sentiam-se mais do que felizes em falar sobre hemorróidas se isso significava obter algum alívio." (Notas do editor. As hemorróidas são sintomas associados ao debilitado sistema circulatório (do sangue), sectarismo (ficar sentados por horas seguidas), abuso na alimentação de produtos industrializados (empacotados), excesso de calor e excesso de atividade intelectual (stress). Um coadjuvante alimentar, a fibra de trigo (vendida em supermercados) deve-se tomar uma colher das de  chá no café ou suco de frutas, mas só compre a finamente pulverizada e mole para não irritar o estômago e que funciona por alguns anos, até mostrar sinais de empanturramento e saciação (como se o estômago desse sinal de cheio mesmo após várias horas após as refeições e nesse caso deve-se prudentemente deixar de tomá-lo). A função desse medicamento é por fibras no bolo fecal (dizem que elas formam um volume 12 vezes maior), facilitando e reanimando os movimentos peristálticos dos intestinos, retirando o excesso de gordura das fezes e evitando fazer força para defecar (as fezes são excretadas sem esforço nenhum). Mas, o remédio eficaz e que não se deve tomá-lo por um período de mais de um ano, o ANGIOLAX (remédio vendido sob receita médica), é indicado para fazer a circulação sanguínea voltar ao normal em poucos dias e por conseqüência, dá sinais de ir às pressas ao banheiro, evitando fazer esforço físico. Evite comer alimentos com condimentos, pimenta malagueta, pimentão e cebola (que contém muito ácido sulfúrico) e berinjela que são irritantes dos intestinos. Seus lanches devem vir acompanhados por frutas – maçã, pêra, laranja mimo ou Bahia, mamão pela manhã, etc. – evitando frituras, refrigerantes que contém gases, CO2 que provocam acidez estomacal, leite e seus derivados (a partir dos 35 anos os seres humanos apresentam déficit de enzimas para digeri-los e portando vão de fazer mal), manteiga e chocolate (são putrefacientes do bolo fecal) e toda espécie de bebidas alcoólicas que dilatam as veias e vasos sanguíneos e provocam varizes, as fomentadoras de coágulos que desencadeiam derramem – AVC – e nos pulmões. O melhor remédio para reforçar as resistências das veias e artérias (para quem tem tendência a desenvolver varizes (hemorróidas é um tipo de varizes) e estreitar seus volumes é o Capilerine (o nome é quase idêntico a esse) 75mg (remédio controlado, não pode ser tomado por mais de um ano e meio e só pode ser vendido com receita médica), mas já surgiram outros muito mais potentes. Provavelmente você vai empenhar-se uns 2 anos para deliberar e ficar livre de hemorróidas e varizes e vai ter que mudar os seus hábitos alimentares para o resto de sua vida. Por conseguinte, teu corpo te agradece. Marque uma consulta com o seu médico proctologista antes que os sintomas piorem seu quadro clínico. (Pesquise no Google proctologistas perto de onde você mora e boa sorte).       

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Febre reumática em Pernambuco



por Paulo Gomes de Araújo Pereira. Como pode uma amigdalite destruir válvulas do coração ao ponto de liquidá-lo com o tempo? Por que crianças e adolescentes deixam de tomar a cada 21 dias uma injeção que custa menos de R$ 1,00 e poderia livrá-los da morte decretada? Pois é, um problema relativamente simples é negligenciado por décadas, fabricando sofrimento, morte e custo altíssimo ao SUS. Esse enigma chama-se febre reumática, esquecida dos programas de saúde no Brasil, mas que atrofia corações limita jovens, mães e pais de família, mata, deixa órfãos sem que uma ação enérgica seja adotada. Nas enfermarias do Imip e do Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco, no Recife, histórias sem um final feliz são contadas todos os dias, com rostos diferentes, da região metropolitana, Mata, Agreste ou Sertão. João Inácio, 32 anos, e duas irmãs são personagens desse drama. Quando ele tinha 3 anos de idade, o coração passou por uma plástica, para diminuir lesões em duas válvulas cardíacas. Uma irmã, de 29 anos, não fez cirurgia ainda, mas vive cansada, sente dores frequentes nas articulações. A outra mora em São Paulo, ignorando a enfermidade. Nenhum deles conseguiu aposentadoria por invalidez. João faz bico de gari porque não consegue ficar empregado – falta com frequência em razão da febre e dor. Luciene também não consegue permanecer muito tempo como empregada doméstica. Eles não fazem a profilaxia. Esquecem ou encontram dificuldade para tomar a penicilina benzatina, medicamento liberado no mundo há mais de 50 anos. E o pior é que a história se repete. Tamirez Kaiane Silva, 9 anos, de Altinho, Agreste do Estado, teve implantada uma válvula no coração no último dia 20 de abril. "Em novembro do ano passado ela ficou com febre, dor na garganta. Depois inchou as pernas, perdeu muito peso. De 23 quilos chegou a 18. "Não tinha fé de levar ela viva pra casa", conta a mãe, Anadilza Maria da Conceição. Em outros países há aplicação em massa do antibiótico para proteger as crianças. No Brasil a ocorrência de febre reumática sequer é de registro obrigatório, fato que fez o cardiologista de maior experiência com a enfermidade em Pernambuco escrever uma carta à presidente da república.
Primos no sangue e na dor ignorada - Manoel Alexandre de Lima, 23 anos, internado desde junho no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape). Samuel Araújo de Lima, 15, hospitalizado dois meses antes na pediatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Sobrenomes iguais, doença idêntica. Primos, Manoel e Samuel, naturais de Triunfo, no Sertão do Pajeú, filhos de agricultores, têm válvulas do coração estragadas pela febre reumática e vieram ao Recife, separadamente, submeter-se a novas cirurgias. A doença, que desde 1966 deixou de ser considerada rara em Pernambuco, a partir de estudo do patologista Vital Lira, permanece em alta sem que seja levada a sério pelas políticas de saúde. No hospital onde Manoel se trata Procape, 90% dos leitos de uma enfermaria de doenças valvares são dedicados a adultos vítimas da febre, que é uma reação do sistema imunológico à infecção pela bactéria estreptococo. Os antígenos do microrganismo se confundem com a fibra cardíaca, que passa a ser atacada, gerando inflamações, granulomas e rigidez das válvulas, especialmente a mitral. O germe "planetário", como define o professor Vital Lira, hoje com 78 anos, existe em todo lugar e não deve ser extinto, pois faz parte de uma cadeia biológica também benéfica ao homem e ao ambiente. O contato desastroso com o estreptococo é frequente na infância e adolescência, quando inicialmente causa faringite. Mal diagnosticada e sem tratamento adequado, acaba gerando dores articulares e evoluindo para pericardites, endocardites e espessamento de válvulas. A doença também pode causar pielonefrite (inflamação dos rins) e consequente insuficiência renal. O pior dessa história é que a prevenção é fácil, com uso de um antibiótico antigo, simples e barato, a penicilina benzatina. Mas o acesso a ela é difícil, burocratizado, centralizado por causa de uma celeuma em torno do risco de reação alérgica, comum também a analgésicos de venda e uso livre. Como têm que tomar uma injeção a cada 21 dias, os doentes precisam ir a um hospital e se não houver médico de plantão, ninguém aplica. "Vital Lira provou que a febre reumática era doença também em clima tropical. No início do século passado achava-se que o mal era dos países frios", explica Lurildo Saraiva, 62, professor de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Aluno de Vital, aprendeu com ele todas as lesões que a enfermidade é capaz de causar. Na prática de mais de 40 anos, conhecendo a história social dos pacientes, constatou que no Brasil a doença está muito associada à pobreza. Continua viva, apoiada na negligência dos governos com a população rural e das favelas urbanas. No ano passado, impaciente com uma realidade ignorada, escreveu à presidente, apelando em favor das novas gerações. Saraiva tem de cor a história de muitos pacientes, vivos ou mortos. Uma delas reúne três irmãos, de Camaragibe. João Inácio Xavier, Maria Luciene e Lucivânia. Hoje são adultos, mas adoeceram na infância e continuam expostos ao mal porque não cumprem a profilaxia com a injeção periódica. A renda per capita da família é de R$ 102,00.
Samuel, o garoto internado no Imip, vive no Sítio Lajes, em Triunfo. E se deparou com a febre reumática aos 3 anos de idade. "Começou com inchaço nos joelhos. Ele sentia muita dor. Depois inchou o rosto. Minha irmã levou ao médico de lá, mas ele não entendia o que era. Depois descobriram e trouxeram Samuel para o Recife. Aos 7 anos ele fez a primeira cirurgia", conta o irmão Alfredo Lima, 29, que acompanha o menino, órfão de mãe desde o primeiro ano de vida. Em abril último Samuel trocou a válvula pela quarta vez. "Eu gosto de ir à escola. Quero ser historiador", diz. Está na oitava série, mas, por conta da doença, que o deixa cansado e exige internamentos no Recife, perde aulas. No dia da entrevista, alegrava-se ao matar o tempo jogando num laptop, cedido pelo projeto de extensão Saúde e Saber, da Faculdade Fafire (particular), que visita enfermarias do Imip.A médica de Samuel, cardiologista pediátrica surpreende-se há 25 anos consecutivos com a sina de crianças e jovens, tão precocemente submetidos à frustração, a uma vida limitada, sofrida. "É vergonhoso. Eles nascem com o coração normal e por uma dor de garganta que poderia ser tratada ficam assim. Por ano recebo 50 a 60 novos casos. O SUS gastou R$ 232,1 milhões de 2005 a 2007 com cirurgias cardíacas relacionadas à febre reumática. O custo social é muito maior." Os médicos usam válvula de porco na maioria das vezes, que tem vida curta de 36 meses em média. A mecânica, mais duradoura, nem sempre pode ser usada porque exige muitos cuidados, uso diário de anticoagulantes, tornando-se inadequada em famílias pobres, com baixa instrução, que vivem em habitações precárias, sem saneamento básico e assistência médica perto de casa, longe da capital. De troca em troca, o coração vai cansando e exigindo substituição completa. Muitos morrem antes disso. Diana Lamprea, responsável pela enfermaria de valvulopatias do Procape, recebe doentes da capital e do interior, de 18 a 70 anos. E com frequência ouve deles que até então não sabiam da febre reumática. Também assiste à luta, quase inglória, de conquistar a aposentadoria por invalidez. Manoel, o primo de Samuel, descobriu a febre reumática aos 12 anos, fez a primeira cirurgia aos 14 anos e na semana da visita da reportagem ia colocar duas válvulas. Casado, pai de um filho desafia a doença lidando com a terra seca, com a falta d’água, sangrando pelo nariz, cansando nas 24 horas do dia. Triunfo, cidade turística do Sertão do Pajeú, tem 15.006 habitantes, com 47,5% deles vivendo em área rural. Os jovens de 6 a 24 anos correspondem a 34,7%. E 17% dos que têm 15 anos ou mais não sabem ler nem escrever, levantou o IBGE em 2010.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Leishmaniose em Pernambuco




por Paulo Gomes de Araújo Pereira. Esquecida há décadas até entre as negligenciadas, a leishmaniose entrou na vida do pequeno Kevelly, de 5 anos, e do seu pai, o agricultor Ivan José da Silva. Nascidos na zona canavieira foram expostos à doença transmitida por um mosquito quase invisível, que ataca humano porque perdeu o endereço original. Estudos sobre o vetor, iniciados na década de 50, provam hoje a relação estreita dos novos focos da doença com a derrubada da mata nativa. A população, por sua vez, acredita que a função dos guardas de endemias da Funasa, hoje delegada a prefeituras, não é cumprida. O tratamento também esbarra na carência de pessoal nos serviços de saúde. Amaraji, foco de estudo na década de 90, não é a única cidade com constante transmissão. Há leishmaniose nos municípios vizinhos e na Região Metropolitana. Em Igarassu, no Grande Recife, profissionais de saúde aprenderam com um surto descoberto há quatro anos que até hoje rende novos doentes. Lá, o trabalho conjunto da atenção básica com a comunidade e a unidade da Fundação Oswaldo Cruz no Recife mostra como um sistema unificado de saúde pode favorecer a descoberta e o acompanhamento de novas doenças. A experiência faz a Unidade de Saúde da Família de Três Ladeiras ser procurada por moradores de cidades vizinhas. A outra versão da leishmaniose, interna doentes mais graves. É a visceral, que afeta o aparelho digestivo, com ocorrências nos hospitais universitários (Hospital das Clínicas, da UFPE, e Oswaldo Cruz, da UPE). Até no Sertão já foram diagnosticados casos de leishmaniose. Embora em acelerada expansão, nenhuma das formas da doença foi incluída no Programa de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas do Estado. O coordenador José Alexandre de Menezes afirma que, mesmo não estando no pacote, a doença é alvo de ações da Secretaria Estadual de Saúde. Já o Ministério da Saúde está querendo recuperar o tempo perdido nas décadas atrás. Oferece financiamento a projetos de pesquisas que inovem no tratamento e na prevenção. Até vacina faz parte das metas a alcançar. Governadores inescrupulosos estão levando a saúde dos pernambucanos a um escalabro perigosíssimo. A população interiorana de Pernambuco não encontra postos de saúde capacitados para atendê-la e encaminhá-la a hospitais públicos. São poucos os casos efetivamente solucionados, para não dizer quase nenhum apoio a população pernambucana.
Desalojando os mosquitos - Em Amaraji, cidade onde na década de 90 pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco conseguiram elementos para estudar amplamente a transmissão da leishmaniose tegumentar (cutânea), inclusive isolando pela primeira vez o protozoário leishmânia, resquícios da doença são fáceis de encontrar entre sua população de 21.939 habitantes, segundo o último Censo do IBGE. No hospital municipal, basta uma conversa rápida com o enfermeiro de plantão para saber que a moléstia não é coisa do passado. E não é mesmo, garante a vice-prefeita Bernadete Brito, responsável também pela vigilância epidemiológica municipal. "Nosso município é endêmico, em razão do desmatamento que vem ocorrendo há mais de 20 anos", comenta. A doença está presente na zona rural, em assentamentos mais recentes e especialmente onde há bananeiras. A cultura da cana, que desmata, desalojando os mosquitos silvestres expõe e protege ao mesmo tempo. Uns acreditam que o agrotóxico usado na cultura afugenta o minúsculo mosquito da leishmaniose. Edileuza Brito, pesquisadora do Centro Aggeu Magalhães (unidade da Fiocruz), é a responsável pelo isolamento do agente causador. Ela explica que desde a década de 50, quando Durval Lucena estudou o mosquito transmissor na cidade de Igarassu, no Grande Recife, até os dias atuais, há dificuldade de encontrá-lo infectado. Amaraji é referência nas pesquisas por ter transmissão por mais de uma década. Essa convivência permanente fez ao menos moradores e profissionais de saúde ficarem mais atentos ao problema. "Percebemos que a transmissão está mais controlada. Entre abril e maio registramos oito casos", conta Bernadete Brito, da epidemiologia municipal. Segundo ela, as equipes do Programa Saúde da Família são comprometidas e há a parceria com o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), da Universidade de Pernambuco, e a Fiocruz. O tratamento é fornecido na cidade (o doente toma por 20 dias a medicação injetável, como se fosse uma quimioterapia). Mas muitos casos são levados ao Huoc, no Recife, contribuindo para estudos das duas instituições.
A herança perversa que comprovamos nas famílias chagásicas e vítimas de esquistossomose, já descrita nessa reportagem, revela-se também na leishmaniose, precisamente num território onde um quarto da população recebe no máximo um salário mínimo. Seguindo orientação dos profissionais de saúde do município, chegamos ao Engenho Raíz Nova, depois de meia hora rodando por estrada de barro, um verdadeiro labirinto cercado por cana-de-açúcar. O endereço é do casal Roseli Josefa da Silva, 32 anos, e Ivan José da Silva, 35, agricultores que herdaram a propriedade de familiares. Eles têm dois filhos, Eliel Ivan da Silva, o mais velho, com 12 anos, e Kevelly Ivan da Silva, 5. O caçula tem uma ferida na perna esquerda, que está fechando, e é o mais novo herdeiro da leishmaniose. Há seis anos foi a vez do pai. "Confirmamos no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, depois de passar por um médico daqui", conta Roseli, duplamente vítima da negligência do Brasil com sua população rural. Além de cuidar do marido há seis anos e agora do filho caçula com leishmaniose, ela também já foi vítima de outra doença típica da Zona da Mata pernambucana, a esquistossomose. "Nesse tempo morava no Riacho do Sul, tomava banho de rio. Agora só pego água de cacimba", conta. Bem perto da casa dos Silvas, mas já no limite com Cortês, cidade vizinha, encontramos outras famílias marcadas pela leishmaniose. José Joaquim de Oliveira, 41 anos, disse que teve uma ferida profunda. A amiga Irene Silva, 58, moradora do Engenho Limão, já em Cortês, apresenta a neta Amanda Maria da Silva, de 15 anos, grávida de cinco meses, com uma cicatriz no joelho que está ganhando a forma de ferida novamente. "No ano passado tomei 40 injeções, essa ferida doía muito", conta a menina, temerosa de ter a doença agora durante a gestação. A avó diz que na região "todo mundo é vacinado por essa pereba", e se queixa das dificuldades para ter acesso a médico na sua cidade. "É um sufoco." Edileuza explica que a baixa imunidade pode reativar a doença. Pode ser o caso de Amanda. A falta de médicos em horário integral nos postos de Saúde da Família não é exclusividade de Cortês. Praticamente em quase todo o interior é assim que funciona, em razão da baixa oferta de mão de obra. O profissional vai 2 ou 3 vezes na semana para examinar pessoas e prescrever medicamentos.
Igarassu - Em Três Ladeiras, Igarassu, onde foi detectado surto em 2008, a enfermeira da Unidade de Saúde da Família da comunidade, Silvana Reis, ainda tinha em junho de 2012 na ponta da língua os casos registrados desde então. "São 73 pacientes desde o primeiro caso", diz, com informações seguras sobre a doença. O distrito, com 430 famílias, tem uma maioria de baixa renda, com analfabetos e outros de pouca instrução. A área é vizinha de Araçoiaba e Itaquitinga. Para Silvana Reis, o desmatamento é o inimigo número um da comunidade. "Derrubando a mata, o flebótomo vai atrás de comida e acaba picando o homem", explica. Segundo ela, o pior ano foi 2009. Foram 41 doentes. Ou seja, quase 10% das famílias estavam atingidas pela enfermidade. Em 2012, a ocorrência tem sido menor. Enquanto Silvana Reis relata a história da doença na comunidade, a viúva Lourdes Maria Dias, 54, toma a medicação injetável contra o mal. No ombro expõe a ferida, que já está reduzindo em razão do tratamento. "Moro na Vila Jarapiá. O ruim é quando chega o fim de semana e a gente tem que ir para a Unidade Mista de Igarassu tomar o remédio lá", conta Lourdes. O posto fica fechado sábado e domingo. São nove quilômetros de estrada de barro. Ela tem que gastar R$ 3 de ônibus ou lotação, uma despesa que aperta o orçamento doméstico de famílias que já vivem de programas de transferência de renda. Enquanto uns se tratam, outros vão entrando para a lista de suspeitos. Na mesma manhã da visita ao posto de Três Ladeiras, o médico Geraldo Cintra e a enfermeira Silvana Reis recebem uma criança de 5 anos, levada pela mãe. A garota está há uma semana com uma ferida no pulso, que não sara. "Muitas vezes a família tenta curar o ferimento usando alguma sobra de remédio, de pomada, e isso dificulta a identificação", comenta a enfermeira. Para Silvana e Geraldo, seria essencial que a leishmaniose ganhasse maior atenção das políticas de saúde. Segundo ele, até na faculdade é muito superficial o ensino repassado aos futuros médicos, o que dificulta o diagnóstico. A desinformação também é ruim para a população e os gestores municipais. "As habitações só devem ser construídas a uma distância de 500 metros da mata. É necessário usar repelente, colocar telas nas janelas ou outra proteção", orienta Edileuza Brito, do Aggeu Magalhães.
Leishmania também ataca as vísceras - Desde abril último, outro tipo de leishmaniose, a visceral, que afeta órgãos internos, passou a ter maior visibilidade entre os sanitaristas do setor público em Pernambuco, com o lançamento de um boletim epidemiológico pela Secretaria Estadual de Saúde. A doença, transmitida pela picada do flebótomo (mosquito palha), já causou a morte de 106 pessoas entre 2001 e 2011. No mesmo período foram registrados 1.224 doentes no Estado. As crianças respondem por quase metade dos casos, conforme a Secretaria Estadual de Saúde. E são as menores de 5 anos as mais atingidas. Quando não há tratamento, a mortalidade é de 90%. Febre de longa duração, falta de apetite, emagrecimento, fraqueza, aumento do fígado e do baço são sinais clássicos dessa outra modalidade de leishmaniose, conhecida como calazar, esquecida historicamente nos programas de governo. A causa mais frequente de morte são as enfermidades, como pneumonia, causadas por bactérias. Cães - Como é transmitida com a participação dos cães – a fêmea do inseto pica cães infectados e depois transfere o parasita ao homem –, esses animais também devem ser alvo da vigilância nos municípios. Eles podem não apresentar sintomas. Quando adoecem, têm apatia, lesões de pele, perda de peso e crescimento anormal de unhas. Em Pernambuco, na última década, a leishmaniose visceral canina concentrou-se nos municípios do Sertão (51,1%) e Agreste (37,9%), ficando o Grande Recife e o Litoral com 11% dos casos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é doença endêmica com registro de surtos constantes. Antes limitada a áreas rurais, agora se aproxima de centros urbanos, ameaçando um número crescente de pessoas. Amaraji, na Zona da Mata, tem 21.939 habitantes, com 26,9% deles vivendo na área rural e, desses, 31% são crianças e adolescentes com idade até 14 anos. O valor médio do rendimento mensal familiar per capita em área rural foi R$ 176 em 2010, apurou o IBGE. Igarassu, com população cinco vezes maior, de 102.021 moradores, tinha famílias rurais com rendimento médio de R$ 239 no mesmo ano. Cidade da região metropolitana, já tem 92% de seus habitantes urbanizados.