por PGAPereira.
Em 1966, o médico recém-formado Itamar Belo dos Santos assumia seu primeiro
emprego no Centro Lessa de Andrade, na Madalena, Zona Oeste do Recife. Começava
aí sua carreira como leprologista, palavra em desuso nos tempos atuais. Hoje,
46 anos depois, não tem como esconder a decepção diante de um problema que
ajudou a combater por toda a sua vida profissional na saúde pública: a
hanseníase. A doença mudou de nome para que o estigma e o preconceito fossem
vencidos, mas ela se mantém firme, distribuída na geração de jovens, embora
sejam raros os isolamentos como no passado. Nas décadas de 40, 50 e 60, o
Hospital da Mirueira, em Paulista, conhecido como o Leprosário de Pernambuco,
recebeu dezenas de doentes abandonados pelas famílias. O abandono, aliás,
traduziu-se em muitas formas. "Faltou compromisso das autoridades
sanitárias, por isso a doença persiste até hoje", afirma convicto. No
Lessa, centro de referência, Itamar tratou centenas de doentes, formou novos
profissionais e iniciou seus estudos. Propôs a descentralização do atendimento.
"Era preciso preparar os médicos para atuarem no interior, criar os
dispensários com assistentes sociais, dermatologistas. Quando houvesse dúvida,
o paciente viria à capital". Mas não deram a mínima para a iniciativa do
especialista. Mesmo sem apoio, Itamar manteve seus estudos sobre a doença. Fez
mestrado, doutorado, atuava como preceptor de jovens médicos ou doutorandos em
conclusão de curso. Realizou pós-doutorado em Barcelona (Espanha), produziu
mais de 40 trabalhos. Conseguiu provar que não bastava combater o bacilo, era
preciso usar remédios que estimulassem o sistema de defesa do organismo do
doente. Queria ir mais adiante, porém não teve apoio. No Hospital da Santa Casa
de Misericórdia, em Santo Amaro, fundou e hoje é consultor de um centro de
dermatologia, que especializa médicos. Assim como nos tempos de Itamar, as
vítimas da hanseníase em Pernambuco permanecem em classe social baixa. São idosas,
adultas, jovens, como essa adolescente grávida de São José do Egito (foto) e
crianças, da capital e dos mais distantes lugarejos do interior. Quanto mais
novo o portador da enfermidade, maior o sinal do descontrole da transmissão. O
Estado é o terceiro do País em número de doentes. Todo esse caos na saúde
pública de Pernambuco deveu-se as péssimas administrações de governadores sem
as mínimas qualificações para a função pública, por exemplo, Miguel Arraes de
cujo orçamento foi todo para fazer suas politicagens de catador de votos dos
miseráveis enganando a população com discursos metafóricos e sem vínculos com a
realidade; um Jarbas Vasconcelos que nada fez em prol da população com projetos
de pouca significação ou distanciados do dia a dia dos miseráveis; e o Eduardo
Campos que desprezou a saúde pública em detrimento de aumentos absurdos do
funcionalismo estadual, gastando o bilionário orçamento com projetos desnecessários
e faraônicos, um destoado da realidade angustiante dos pernambucanos.
Adolescente grávida e com hanseníase. Na cidade de São José do Egito,
no Sertão, a missão era encontrar portadores da doença de Chagas. Mas agentes
comunitários de saúde e outros profissionais da atenção básica do SUS chamavam
a atenção para a hanseníase. No posto de saúde de um dos bairros populosos da
cidade, havia uma garota de 17 anos, grávida de seis meses, com manchas em
várias partes do corpo, que reclamava das reações provocadas pelo remédio. "Não
sabia que estava com hanseníase. Agora estou preocupada porque vomitei muito
depois de iniciar o tratamento", contava. Tinha ido à unidade do SUS em
busca de uma orientação médica. Segundo os profissionais de saúde, há muita
migração de moradores de um bairro para outro, da zona rural para o espaço
urbano, formando novos aglomerados. O êxodo rural em Pernambuco esvaziou os
engenhos por completo. Tuberculose, alcoolismo e hanseníase acabam ganhando
espaço entre essa população mais pobre nas cidades. Num dos loteamentos da
cidade, um casal de meia idade, ex-morador do Recife, habita um casebre, onde
não há água encanada e as condições de higiene são aparentemente precárias. A
dona de casa está com hanseníase, mas não cumpre o tratamento. O marido tem uma
ferida infectada na perna, na cicatriz de uma fratura exposta. Eles têm sete
filhos. Ao descobrir casos de hanseníase, as equipes de saúde fazem bloqueio,
vacinando com BCG (a mesma para tuberculose) parentes e a vizinhança que teve
contato com o doente. Os remédios estão disponíveis, mas a dificuldade é
convencer pessoas com outros problemas sociais a cumprirem a prescrição. O
Programa Estadual de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas (Sanar) elegeu 25
municípios prioritários, onde há uma maior quantidade de menores de 15 anos
infectados, principalmente no Agreste e Sertão. Por ter grande número de
doentes nessa faixa de idade, Pernambuco é considerado hiperendêmico. Somando
doentes de todas as idades, a média é de 37 doentes em cada grupo de 100 mil
habitantes. Em 2011, o número absoluto de casos confirmados chegou a 2.649. Nos
últimos dez anos são 34.666. Para melhorar o combate, o Sanar implantou um
laboratório de referência no Hospital Otávio de Freitas, no Recife, fez mutirão
em cidades prioritárias e está treinando médicos da atenção básica para
melhorar o diagnóstico. Recife. Na capital, o desenvolvimento econômico
com a permanência de desigualdade faz com que de cada 100 mil pessoas, 45
tenham hanseníase. "A condição socioeconômica, a densidade populacional no
domicílio e o preconceito, que leva o indivíduo a não procurar o serviço de
saúde, favorecem a transmissão da doença", explica o responsável pela Epidemiologia,
Antônio Leite. A Secretaria de Saúde do Recife iniciou, antes do projeto
estadual, um plano de combate às doenças negligenciadas, focado na população
escolar. Nos colégios públicos, alunos e professores recebem informações sobre
hanseníase. Crianças e adolescentes levam para casa uma ficha a ser preenchida
com os pais. A partir das respostas, são selecionados casos suspeitos. De 5.111
fichas distribuídas a partir do ano passado, 39,8% (2.036) foram respondidas.
De 679 suspeitas, foram confirmados 19 casos. O resultado foi considerado
satisfatório, o que sustenta a continuação do trabalho. São José do Egito, no Sertão do Pajeú, tem
31.829 moradores. A maior quantidade de domicílios permanentes é aquela em que
vivem três pessoas. Há 2.595 moradores nessa situação.
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