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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Hanseníase em Pernambuco



por PGAPereira. Em 1966, o médico recém-formado Itamar Belo dos Santos assumia seu primeiro emprego no Centro Lessa de Andrade, na Madalena, Zona Oeste do Recife. Começava aí sua carreira como leprologista, palavra em desuso nos tempos atuais. Hoje, 46 anos depois, não tem como esconder a decepção diante de um problema que ajudou a combater por toda a sua vida profissional na saúde pública: a hanseníase. A doença mudou de nome para que o estigma e o preconceito fossem vencidos, mas ela se mantém firme, distribuída na geração de jovens, embora sejam raros os isolamentos como no passado. Nas décadas de 40, 50 e 60, o Hospital da Mirueira, em Paulista, conhecido como o Leprosário de Pernambuco, recebeu dezenas de doentes abandonados pelas famílias. O abandono, aliás, traduziu-se em muitas formas. "Faltou compromisso das autoridades sanitárias, por isso a doença persiste até hoje", afirma convicto. No Lessa, centro de referência, Itamar tratou centenas de doentes, formou novos profissionais e iniciou seus estudos. Propôs a descentralização do atendimento. "Era preciso preparar os médicos para atuarem no interior, criar os dispensários com assistentes sociais, dermatologistas. Quando houvesse dúvida, o paciente viria à capital". Mas não deram a mínima para a iniciativa do especialista. Mesmo sem apoio, Itamar manteve seus estudos sobre a doença. Fez mestrado, doutorado, atuava como preceptor de jovens médicos ou doutorandos em conclusão de curso. Realizou pós-doutorado em Barcelona (Espanha), produziu mais de 40 trabalhos. Conseguiu provar que não bastava combater o bacilo, era preciso usar remédios que estimulassem o sistema de defesa do organismo do doente. Queria ir mais adiante, porém não teve apoio. No Hospital da Santa Casa de Misericórdia, em Santo Amaro, fundou e hoje é consultor de um centro de dermatologia, que especializa médicos. Assim como nos tempos de Itamar, as vítimas da hanseníase em Pernambuco permanecem em classe social baixa. São idosas, adultas, jovens, como essa adolescente grávida de São José do Egito (foto) e crianças, da capital e dos mais distantes lugarejos do interior. Quanto mais novo o portador da enfermidade, maior o sinal do descontrole da transmissão. O Estado é o terceiro do País em número de doentes. Todo esse caos na saúde pública de Pernambuco deveu-se as péssimas administrações de governadores sem as mínimas qualificações para a função pública, por exemplo, Miguel Arraes de cujo orçamento foi todo para fazer suas politicagens de catador de votos dos miseráveis enganando a população com discursos metafóricos e sem vínculos com a realidade; um Jarbas Vasconcelos que nada fez em prol da população com projetos de pouca significação ou distanciados do dia a dia dos miseráveis; e o Eduardo Campos que desprezou a saúde pública em detrimento de aumentos absurdos do funcionalismo estadual, gastando o bilionário orçamento com projetos desnecessários e faraônicos, um destoado da realidade angustiante dos pernambucanos.
Adolescente grávida e com hanseníase. Na cidade de São José do Egito, no Sertão, a missão era encontrar portadores da doença de Chagas. Mas agentes comunitários de saúde e outros profissionais da atenção básica do SUS chamavam a atenção para a hanseníase. No posto de saúde de um dos bairros populosos da cidade, havia uma garota de 17 anos, grávida de seis meses, com manchas em várias partes do corpo, que reclamava das reações provocadas pelo remédio. "Não sabia que estava com hanseníase. Agora estou preocupada porque vomitei muito depois de iniciar o tratamento", contava. Tinha ido à unidade do SUS em busca de uma orientação médica. Segundo os profissionais de saúde, há muita migração de moradores de um bairro para outro, da zona rural para o espaço urbano, formando novos aglomerados. O êxodo rural em Pernambuco esvaziou os engenhos por completo. Tuberculose, alcoolismo e hanseníase acabam ganhando espaço entre essa população mais pobre nas cidades. Num dos loteamentos da cidade, um casal de meia idade, ex-morador do Recife, habita um casebre, onde não há água encanada e as condições de higiene são aparentemente precárias. A dona de casa está com hanseníase, mas não cumpre o tratamento. O marido tem uma ferida infectada na perna, na cicatriz de uma fratura exposta. Eles têm sete filhos. Ao descobrir casos de hanseníase, as equipes de saúde fazem bloqueio, vacinando com BCG (a mesma para tuberculose) parentes e a vizinhança que teve contato com o doente. Os remédios estão disponíveis, mas a dificuldade é convencer pessoas com outros problemas sociais a cumprirem a prescrição. O Programa Estadual de Enfrentamento das Doenças Negligenciadas (Sanar) elegeu 25 municípios prioritários, onde há uma maior quantidade de menores de 15 anos infectados, principalmente no Agreste e Sertão. Por ter grande número de doentes nessa faixa de idade, Pernambuco é considerado hiperendêmico. Somando doentes de todas as idades, a média é de 37 doentes em cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2011, o número absoluto de casos confirmados chegou a 2.649. Nos últimos dez anos são 34.666. Para melhorar o combate, o Sanar implantou um laboratório de referência no Hospital Otávio de Freitas, no Recife, fez mutirão em cidades prioritárias e está treinando médicos da atenção básica para melhorar o diagnóstico. Recife. Na capital, o desenvolvimento econômico com a permanência de desigualdade faz com que de cada 100 mil pessoas, 45 tenham hanseníase. "A condição socioeconômica, a densidade populacional no domicílio e o preconceito, que leva o indivíduo a não procurar o serviço de saúde, favorecem a transmissão da doença", explica o responsável pela Epidemiologia, Antônio Leite. A Secretaria de Saúde do Recife iniciou, antes do projeto estadual, um plano de combate às doenças negligenciadas, focado na população escolar. Nos colégios públicos, alunos e professores recebem informações sobre hanseníase. Crianças e adolescentes levam para casa uma ficha a ser preenchida com os pais. A partir das respostas, são selecionados casos suspeitos. De 5.111 fichas distribuídas a partir do ano passado, 39,8% (2.036) foram respondidas. De 679 suspeitas, foram confirmados 19 casos. O resultado foi considerado satisfatório, o que sustenta a continuação do trabalho. São José do Egito, no Sertão do Pajeú, tem 31.829 moradores. A maior quantidade de domicílios permanentes é aquela em que vivem três pessoas. Há 2.595 moradores nessa situação.

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