por PGAPereira.
A filariose, transmitida pela muriçoca Culex,
foi considerada em 1960 problema de saúde pública no Recife pelo Departamento
Nacional de Endemias Rurais, que cuidava do controle de doenças no Ministério
da Saúde. Na década anterior, um estudo feito no território nacional para
verificar a distribuição da doença já havia encontrado muitas pessoas (13% dos
examinados) infectadas em bairros como Santo Amaro, Beberibe, Encruzilhada,
Várzea e Afogados. Mais cedo ainda, o médico Amaury Coutinho provava uma
variação clínica à elefantíase, a eosinofilia pulmonar, cujo primeiro caso
brasileiro foi detectado por ele em Pernambuco. A dona de casa Renata Maria de
Carvalho residente no Córrego do Deodato, em Água Fria, bairro da Zona Norte da
cidade e com mais números de casos no atual milênio, conhece bem, aos 22 anos
de idade, como é difícil conviver com muriçocas
e filariose. Há dois anos, o marido dela teve o desprazer de saber que
estava infectado. Foi assistido pelo tratamento coletivo, ação que a Secretaria
de Saúde do Recife passou a adotar desde 2003 para conter a transmissão da
doença, trabalho exitoso, já reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. Mas
Renata acredita que tomar remédio todo ano não resolve o problema. Na porta da
casa dela, passa um canal aberto com água pluvial e de esgoto, que atrai as
muriçocas. Tratar em massa populações de áreas mais expostas ao mal tem sido
estratégias também em três cidades vizinhas: Olinda, Paulista e Jaboatão dos
Guararapes. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e outras instituições de Pernambuco
defendem, no entanto, um estudo amplo para conhecer a real situação de outras
cidades do Grande Recife. "Há uma migração muito grande de pessoas na
região metropolitana. É preciso saber se há expansão da doença para áreas nunca
estudadas. A filariose é silenciosa,
pode ser transmitida por longo tempo sem provocar sintomas imediatos", diz
Abraham Rocha. Ele é coordenador do Serviço de Referência em Filariose da
Fiocruz no Recife.
Tratamento coletivo reduz transmissão. Embora esteja longe de uma
situação ideal em matéria de drenagem, coleta e tratamento de esgoto, o Recife
está superando a fama de capital da filariose.
O mosquito Culex quinquefasciatus ainda
existe no ambiente, alimentado pelas condições geográficas, climáticas e pela
falta de saneamento. A quantidade de pessoas com microfilárias no sangue, nas áreas historicamente de pior situação,
vem caindo desde que foi implantado o tratamento coletivo, cobrindo até o
momento 54 localidades. A gerência de Vigilância em Saúde municipal afirma que
de 2003 a 2012, o número de pessoas infectadas caiu 99%. "Hoje, a média é
de 0,24 caso por 100 mil. Já foi de 61 por 100 mil habitantes", informa o
gerente de Epidemiologia, Antônio Leite. Água Fria, na Zona Norte do Recife,
onde mora Renata é um dos bairros em que historicamente houve muitos casos.
"Deu positivo para meu marido em 2010. Ele fez tratamento e graças a Deus
ficou curado", relata. Ela só teme que a doença volte a atormentar a
família. "As muriçocas só faltam carregar a gente", diz. Na casa de
Renata, inseticida químico é item
indispensável na feira. Por isso, para ela, a situação só estará controlada de
fato quando a prefeitura resolver o problema do canal que corre na sua porta.
"Poderiam colocar uma proteção, o que ajudaria também no acesso de carros a
rua, além de fazer limpeza com maior frequência e definitivamente dotar a
comunidade de rede coletora de esgoto", diz. Enquanto não amplia em larga
escala a coleta e tratamento dos dejetos, a prefeitura usa larvicida biológico nas canaletas e canais para diminuir a
reprodução de mosquitos. "De forma geral, tivemos uma melhora
significativa comparando a situação atual à de dez anos atrás. Não há dúvida de
que essa melhora só foi possível porque houve interesse significativo da
gestão", avalia o coordenador-geral do serviço de referência em Filariose
da Fiocruz no Recife, Abraham Rocha. Segundo ele, se não fosse o envolvimento
das Secretarias de Saúde de Olinda e Recife, possivelmente não haveria melhora
epidemiológica da filariose. A coordenadora Epidemiológica do serviço de
referência da Fiocruz, Zulma Medeiros, defende a ampliação dos estudos sobre a
doença, nos moldes de uma pesquisa que cubra o cinturão do Grande Recife, nos
municípios com situação indeterminada para a doença, tais como Abreu e Lima,
Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Ipojuca,
Itapissuma, Moreno, Paulista e São Lourenço da Mata. "Nos 11 que compõem a
RMR e que fazem limite com as áreas endêmicas, as informações disponíveis na
literatura e nos serviços de saúde são conflitantes, caracterizando a
necessidade de dados epidemiológicos que venham a definir o real status
epidemiológico de cada um", justifica Zulma Medeiros. O governo brasileiro
aderiu ao Programa Global de Eliminação da Filariose Linfática em 1996. Olinda
tem 377.779 habitantes, que vivem em 113.238 imóveis, sendo 92.867 casas. O
IBGE contou 4.458 residências com esgoto sanitário correndo em valas. Na cidade
vizinha, Paulista, 2.992 domicílios utilizam a mesma forma de escoamento
dos dejetos. Pouco mais de um terço dos pernambucanos, de fato, contam com rede
coletora de esgoto, na maioria das vezes sem tratamento adequado, mas tudo isso
foi gerado por péssimos prefeitos do Recife e Olinda que gastaram os orçamentos
em festas carnavalescas e propagandas políticas. Cada povo tem o prefeito que
merece. Enquanto a maioria dos eleitores que são semianalfabetos tiver peso
maior no sufrágio das eleições, o país fica desgovernado e sem líderes que
possam realmente resolver estas calamidades públicas.
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