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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Filariose em Pernambuco



por PGAPereira. A filariose, transmitida pela muriçoca Culex, foi considerada em 1960 problema de saúde pública no Recife pelo Departamento Nacional de Endemias Rurais, que cuidava do controle de doenças no Ministério da Saúde. Na década anterior, um estudo feito no território nacional para verificar a distribuição da doença já havia encontrado muitas pessoas (13% dos examinados) infectadas em bairros como Santo Amaro, Beberibe, Encruzilhada, Várzea e Afogados. Mais cedo ainda, o médico Amaury Coutinho provava uma variação clínica à elefantíase, a eosinofilia pulmonar, cujo primeiro caso brasileiro foi detectado por ele em Pernambuco. A dona de casa Renata Maria de Carvalho residente no Córrego do Deodato, em Água Fria, bairro da Zona Norte da cidade e com mais números de casos no atual milênio, conhece bem, aos 22 anos de idade, como é difícil conviver com muriçocas e filariose. Há dois anos, o marido dela teve o desprazer de saber que estava infectado. Foi assistido pelo tratamento coletivo, ação que a Secretaria de Saúde do Recife passou a adotar desde 2003 para conter a transmissão da doença, trabalho exitoso, já reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. Mas Renata acredita que tomar remédio todo ano não resolve o problema. Na porta da casa dela, passa um canal aberto com água pluvial e de esgoto, que atrai as muriçocas. Tratar em massa populações de áreas mais expostas ao mal tem sido estratégias também em três cidades vizinhas: Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e outras instituições de Pernambuco defendem, no entanto, um estudo amplo para conhecer a real situação de outras cidades do Grande Recife. "Há uma migração muito grande de pessoas na região metropolitana. É preciso saber se há expansão da doença para áreas nunca estudadas. A filariose é silenciosa, pode ser transmitida por longo tempo sem provocar sintomas imediatos", diz Abraham Rocha. Ele é coordenador do Serviço de Referência em Filariose da Fiocruz no Recife.
Tratamento coletivo reduz transmissão. Embora esteja longe de uma situação ideal em matéria de drenagem, coleta e tratamento de esgoto, o Recife está superando a fama de capital da filariose. O mosquito Culex quinquefasciatus ainda existe no ambiente, alimentado pelas condições geográficas, climáticas e pela falta de saneamento. A quantidade de pessoas com microfilárias no sangue, nas áreas historicamente de pior situação, vem caindo desde que foi implantado o tratamento coletivo, cobrindo até o momento 54 localidades. A gerência de Vigilância em Saúde municipal afirma que de 2003 a 2012, o número de pessoas infectadas caiu 99%. "Hoje, a média é de 0,24 caso por 100 mil. Já foi de 61 por 100 mil habitantes", informa o gerente de Epidemiologia, Antônio Leite. Água Fria, na Zona Norte do Recife, onde mora Renata é um dos bairros em que historicamente houve muitos casos. "Deu positivo para meu marido em 2010. Ele fez tratamento e graças a Deus ficou curado", relata. Ela só teme que a doença volte a atormentar a família. "As muriçocas só faltam carregar a gente", diz. Na casa de Renata, inseticida químico é item indispensável na feira. Por isso, para ela, a situação só estará controlada de fato quando a prefeitura resolver o problema do canal que corre na sua porta. "Poderiam colocar uma proteção, o que ajudaria também no acesso de carros a rua, além de fazer limpeza com maior frequência e definitivamente dotar a comunidade de rede coletora de esgoto", diz. Enquanto não amplia em larga escala a coleta e tratamento dos dejetos, a prefeitura usa larvicida biológico nas canaletas e canais para diminuir a reprodução de mosquitos. "De forma geral, tivemos uma melhora significativa comparando a situação atual à de dez anos atrás. Não há dúvida de que essa melhora só foi possível porque houve interesse significativo da gestão", avalia o coordenador-geral do serviço de referência em Filariose da Fiocruz no Recife, Abraham Rocha. Segundo ele, se não fosse o envolvimento das Secretarias de Saúde de Olinda e Recife, possivelmente não haveria melhora epidemiológica da filariose. A coordenadora Epidemiológica do serviço de referência da Fiocruz, Zulma Medeiros, defende a ampliação dos estudos sobre a doença, nos moldes de uma pesquisa que cubra o cinturão do Grande Recife, nos municípios com situação indeterminada para a doença, tais como Abreu e Lima, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Itapissuma, Moreno, Paulista e São Lourenço da Mata. "Nos 11 que compõem a RMR e que fazem limite com as áreas endêmicas, as informações disponíveis na literatura e nos serviços de saúde são conflitantes, caracterizando a necessidade de dados epidemiológicos que venham a definir o real status epidemiológico de cada um", justifica Zulma Medeiros. O governo brasileiro aderiu ao Programa Global de Eliminação da Filariose Linfática em 1996. Olinda tem 377.779 habitantes, que vivem em 113.238 imóveis, sendo 92.867 casas. O IBGE contou 4.458 residências com esgoto sanitário correndo em valas. Na cidade vizinha, Paulista, 2.992 domicílios utilizam a mesma forma de escoamento dos dejetos. Pouco mais de um terço dos pernambucanos, de fato, contam com rede coletora de esgoto, na maioria das vezes sem tratamento adequado, mas tudo isso foi gerado por péssimos prefeitos do Recife e Olinda que gastaram os orçamentos em festas carnavalescas e propagandas políticas. Cada povo tem o prefeito que merece. Enquanto a maioria dos eleitores que são semianalfabetos tiver peso maior no sufrágio das eleições, o país fica desgovernado e sem líderes que possam realmente resolver estas calamidades públicas. 

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