O mundo pode
alcançar o objetivo de limitar a 2 graus Celsius o aquecimento antes de 2050 se
reduzirmos entre 40% e 70% suas emissões de gases de efeito estufa,
especialmente no setor energético, afirmou neste domingo (13/8/14) um grupo de
especialistas das Nações Unidas. Esta revolução energética requer o abandono de
combustíveis fósseis poluentes e a utilização de fontes
mais limpas para evitar o efeito estufa, que poderá provocar um aumento
da temperatura do planeta entre 3,7°C e 4,8°C antes de 2100, um nível
catastrófico, segundo os cientistas. "Há uma clara mensagem da ciência:
para evitar uma interferência perigosa com o sistema climático, temos que
deixar de continuar operando igual", explicou Ottmae Edenhofer,
copresidente do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança
Climática (IPCC) da ONU, que elaborou o documento. "Reduzir o consumo de
energia nos daria mais flexibilidade para escolher entre as tecnologias com
pouca emissão de carbono, agora e no
futuro", indica o cientista Ramón Pichs-Madruga, um dos três copresidentes
do grupo. Para chegar ao objetivo de limitar o aquecimento a 2°C antes de 2050
"existem muitos caminhos", mas "todos requerem investimentos
substanciais", explicaram os especialistas no relatório. Centenas de
cientistas trabalharam no projeto da ONU. O IPCC publicou seu primeiro
relatório em 2007, provocando um grande debate mundial. Em 2011 as emissões de
gases do efeito estufa foram de 430 ppm (partículas de CO2 por
milhão), uma concentração considerada muito elevada. Para manter esse número em
até 450 ppm, seria preciso reduzir entre 40% e 70% as emissões atuais entre
2010 e 2050, até zerá-las em 2100. Mas, mesmo com esse nível, a probabilidade
de limitar a 2°C o aumento da temperatura seria de 66%. É necessário, além de
diminuir as emissões, "triplicar ou quase quadruplicar" o uso de
fontes energéticas limpas ou nucleares.
Mudança em
grande escala - Todas
essas medidas supõem uma "mudança mundial em grande escala no setor de
abastecimento energético", e implicariam diminuir em 0,06% o consumo
energético global. A queda no consumo e na emissão de gases ainda teria
consequências positivas para a saúde e para o impacto humano na natureza.
Entretanto, se os níveis de CO2 ficarem em 550 ppm em 2100, a possibilidade
de chegar ao objetivo de reduzir o aumento na temperatura seria inferior a 50%.
Além disso, se a temperatura subir entre 0,3°C e 4,8°C, o nível do mar poderia
aumentar entre 26 e 82 centímetros, afetando diretamente a vida nas áreas
costeiras. O informe não apresenta recomendações, mas sim uma lista de opções
possíveis, e recorda que na última década as emissões de gases do efeito estufa
aumentaram em 1 bilhão de toneladas a cada ano, por causa do crescimento
econômico. "Todos os esforços realizados até agora (...) não reduziram
realmente as emissões", explicou Youba Sokona, o terceiro copresidente do
IPCC. "Os desafios são grandes, mas ainda não é tarde demais para
agir", acrescentou. A comunidade internacional fracassou em 2009, em uma
reunião em Copenhague, em fixar objetivos de auto-regularão.
Reação
internacional - Em uma
primeira reação ao documento, a comissária europeia para o Clima, Connie
Hedegaard, pediu para que os Estados Unidos e a China, os países mais poluentes
do mundo, se comprometam com a contra-ofensiva ao aquecimento global. "O
informe do IPCC é claro, não há plano B. Só há o plano A, o da ação coletiva
para reduzir as emissões imediatamente", afirmou Hedegaard em um
comunicado. Ao anunciar que a União Europeia adotará esse ano um ambicioso
programa de redução de suas emissões até 2030, questionou em referência aos EUA
e a China: "quando vocês, os grandes emissores, vão fazer o mesmo? Quanto
mais tarde, pior, mais difícil será fazê-lo". Já o secretário de Estado
americano, John Kerry, reagiu ao documento declarando que o combate ao
aquecimento é uma questão de vontade, e não de capacidade. "O informe diz
muito claramente estamos frente a uma questão de vontade mundial, e não de
capacidade", ressaltou Kery em um comunicado, destacando que já existem as
tecnologias necessárias para proporcionar uma mudança e pediu por mais
investimentos no setor. O relatório tem 2.000 páginas, e o resumo divulgado
neste domingo foi aprovado depois de ser analisado e revisado por
representantes governamentais e cientistas reunidos em Berlim. Postado por
PGAPereira. Foto - CO2 de combustíveis fósseis.
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